São Paulo

Venda de áreas de pesquisa no Estado ameaça bioma Cerrado

No dia da água, APqC defende que áreas recebem investimentos em pesquisa

A venda de áreas de pesquisa no Estado de São Paulo pode colocar em risco o que resta do bioma do Cerrado, considerado o ‘berço das águas’, em território paulista, estimado hoje em apenas 3% da vegetação original. A afirmação é da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), que monitora 39 áreas de experimentação ligadas à Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), todas com vocação para pesquisa e conservação do bioma.  

Imagem da Fazenda Santa Elisa, em Campinas (IAC/Reprodução)

“O atual governo já confirmou, em resposta a um ofício da Assembleia Legislativa, que realiza um estudo para vender essas áreas. São fazendas fundamentais para a pesquisa científica, a produção de conhecimento, e, mais do que isso, essenciais para conservar o pouco que nos resta do bioma do Cerrado no Estado”, afirma Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC. 

O Cerrado é reconhecido pela capacidade de absorver água da chuva e liberar lentamente ao longo de todo ano. No Estado de São Paulo, segundo cientistas, ele cumpre um papel ainda mais relevante, o de proteger o aquífero Guarani, maior manancial de água doce subterrânea do mundo. 

Apesar de sua importância, o Cerrado enfrenta desmatamento há décadas. Dados da plataforma Terrabrasilis, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), indicam que a área desmatada em São Paulo avançou 831,91 km² desde 2001.  

Apenas no ano passado, segundo dados do Painel Verde, do Governo de São Paulo, 281 áreas do bioma Cerrado sofreram intervenções irregulares.  

“Diante do atual cenário de mudanças climáticas, o Estado mais rico da nação deveria estar preocupado em buscar investimentos para desenvolver pesquisas sobre como enfrentar a escassez hídrica, que já afeta muitos municípios do interior paulista, ou estudos para evitar que os mananciais sejam contaminados pela exploração agrícola, algo que também já ocorre em diferentes regiões do Estado”, sinaliza Lutgens. 

Um estudo divulgado no ano passado e conduzido por pesquisadores do Instituto Geológico e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) indica risco de algumas regiões paulistas enfrentarem aumento de até 6ºC na temperatura até 2050. Ondas de calor podem dominar o clima por até 150 dias por ano.  

Segundo a APqC, os 16 institutos públicos de pesquisa de São Paulo têm realizado estudos para identificar variedades mais resistentes às mudanças climáticas, em diferentes culturas. Mas, segundo a APqC, os esforços dos pesquisadores dependem de maior investimento, além da contratação de mais cientistas. 

“A segurança alimentar das próximas gerações depende do investimento em pesquisa que fazemos hoje. O uso sustentável da água e a descoberta de novas variedades de alimentos adaptadas ao novo clima dependem da ciência e não há como produzir conhecimento sem áreas de pesquisa, sem ter onde experimentar essas descobertas. Vender áreas de pesquisa diante do quadro que vivemos é um crime contra as futuras gerações”, finaliza Lutgens. 

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