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Baleado em comício, morre Shinzo Abe

O ex-primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, morreu aos 67 anos após ter sido baleado durante um evento de campanha para eleições parlamentares nesta sexta-feira (08/07), confirmou o hospital onde ele foi admitido.

“Shinzo Abe foi transportado para o hospital às 12h20. Ele estava num estado de parada cardíaca ao chegar. Foi feita reanimação, mas, infelizmente, ele morreu às 17h03”, disse a repórteres Hidetada Fukushima, professor de medicina emergencial no Hospital Universitário de Nara.

Abe, que foi o mais longevo primeiro-ministro da história do Japão, estava fazendo um discurso em prol do atual premiê japonês, Fumio Kishida, favorito nas pesquisas para as eleições deste ano, diante de uma estação de trem em Nara, no oeste do país, quando dois tiros foram disparados contra ele, por volta das 11h30 (hora local).

Michel Temer, ex-presidente da República, cumprimenta Shinzo Abe durante visita ao Japão. Os dois sorriem enquanto dão as mãos. Ao fundo, bandeiras do Brasil e do Japão.
Michel Temer, ex-presidente da República, cumprimenta Shinzo Abe durante visita ao Japão (Arquivo/Beto Barata/PR)

Segundo a imprensa do país, um homem que estava atrás de Abe abriu fogo com uma arma aparentemente caseira. Ele foi detido por forças de segurança em seguida.

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Os serviços de emergência de Nara afirmaram que Abe foi ferido no lado direito do pescoço e na clavícula esquerda. Abe foi transportado para o hospital de helicóptero e, segundo Fukushima, morreu em decorrência da perda de sangue, apesar de ter recebido transfusões.

Kishida condenou o ataque, e líderes internacionais expressaram choque diante do atentado em um país no qual a violência política é rara e armas de fogo são rigidamente controladas.

“Este ataque é um ato de brutalidade que aconteceu no âmbito das eleições – o fundamento da nossa democracia – e é absolutamente imperdoável”, disse Kishida, acrescentando ainda não ter informações sobre a motivação do atentado.

A polícia afirmou que um homem de 41 anos, residente em Nara, suspeito de executar o ataque foi detido. A emissora NHK noticiou que o suspeito, identificado como Tetsuya Yamagami, disse à polícia que estava insatisfeito com Abe e queria matá-lo. Segundo a mídia, o homem serviu ao Exército japonês por três anos, até 2005.

“Houve um barulho alto e depois fumaça”, disse o empresário Makoto Ichikawa, que estava no local do ataque, à agência de notícias Reuters, apontando que a arma tinha o tamanho de uma câmera de televisão.

A agência de notícia Kyodo publicou uma foto de Abe deitado de barriga para cima na rua, com sangue em sua camisa branca. Uma multidão o rodeava, e uma pessoa realizava massagem cardíaca.

Após dois mandatos como premiê, a partir de 2012, Abe renunciou em 2020, citando motivos de saúde. Mas ele se manteve uma figura influente no Partido Liberal Democrata. Kishida, apadrinhado político de Abe, suspendeu sua campanha eleitoral após o atentado contra o ex-premiê. Todos os principais partidos do país condenaram o ataque.

Leis rígidas sobre armas

O ataque chocou muitos japoneses. Airo Hino, professor de Ciências Políticas na Universidade Waseda, afirmou que um ataque a tiros desse tipo é algo sem precedentes no Japão. “Nunca ocorreu algo assim”, disse.

Políticos japoneses de alto escalão são acompanhados por agentes de segurança armados, mas frequentemente chegam perto do público, especialmente durante campanhas políticas, quando fazem discursos e dão a mão para cidadãos.

Jair Bolsonaro sentado ao lado de Shinzo Abe, durante encontro na Suíça. No centro, entre os dois, uma mesa tem bandeiras pequenas dos dois países.
(Davos – Suíça, 23/01/2019) Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante reunião Bilateral como o então Primeiro-Ministro do Japão, Shinzo Abe. (Alan Santos/PR)

A legislação japonesa não permite que cidadãos comuns tenham armas, e caçadores licenciados só podem ter um fuzil. Proprietários de armas precisam frequentar aulas, passar em uma prova escrita e ser submetidos a uma avaliação de saúde mental e checagem de antecedentes criminais.

Ataques a tiros geralmente envolvem gângsteres “yakuza” usando armas ilegais. Massacres, como o que matou 19 pessoas numa instituição para pessoas com problemas mentais em 2016, costumam ser perpetrados com facas.

Ataques contra políticos também são incomuns. Houve poucos incidentes do tipo nos últimos 50 anos, o mais notável deles em 2007, quando o prefeito de Nagasaki foi morto a tiros por um gângster. O atentado levou a um endurecimento ainda maior das leis de armas.

A última vez que um primeiro-ministro foi morto no Japão foi em 1936, durante o radical militarismo japonês pré-guerra.

Condenação internacional

Líderes internacionais manifestaram choque e solidariedade ao povo japonês após o ataque a Shinzo Abe.

O atual premiê japonês se disse sem palavras, após saber da morte do antecessor e colega de partido. “É realmente lamentável. Estou sem palavras. Eu ofereço minhas sinceras condolências e orações para que sua alma descanse em paz”, disse Fumio Kishida a repórteres.

Após a confirmação da morte de Abe, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, disse estar “perplexo e profundamente triste”. “Estamos ao lado do Japão também neste momento difícil”, tuitou.

A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou estar “chocada com a notícia de que Shinzo Abe foi baleado”, antes de saber da morte do político. “Meus pensamentos estão com ele e sua família”, escreveu ela no Twitter. Baerbock está atualmente em Bali, na Indonésia, para a cúpula do G20.

O presidente francês, Emmanuel Macron, se disse “profundamente chocado com o hediondo ataque a Shinzo Abe”. “Nossos pensamentos estão com a família e os amigos de um grande primeiro-ministro. A França está ao lado do povo japonês”, escreveu no Twitter.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, chamou Abe de “líder de grande visão”, classificando seu assassinato de um evento “chocante” e “profundamente perturbador”.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o “assassinato brutal e covarde” de Abe choca o mundo.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, lamentou o “assassinato brutal de um grande homem”. “Japão, a Europa está de luto com vocês”, afirmou.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, se disse “profundamente triste com o odioso assassinato” de Abe. Stoltenberg afirmou que o ex-premiê foi um “defensor da democracia” e expressou condolências à família de Abe, ao premiê Fumio Kishida e “ao povo do Japão, parceiro da Otan, nesse momento difícil”.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse estar “chocado e entristecido” com o que chamou de “ataque deplorável”. Mais tarde, ao saber que Abe não sobreviveu ao ataque, ele disse que a morte do ex-premiê japonês é uma “notícia incrivelmente triste”.

lf/rw (Reuters, AFP, Lusa)

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