Polícia

Jovem some após ser levado em viatura da PM, dizem testemunhas

Por Arthur Stabile



Segundo testemunhas, Carlos Eduardo dos Santos Nascimento, 20 anos, e amigos estavam em um bar quando apenas ele teria sido levado de viatura

Carlos Eduardo, 20 anos, trabalhava com pintura enquanto estava desempregado | Foto: Arquivo pessoal

Há seis dias, Eduardo Aparecido do Nascimento, segurança de 50 anos, busca informações sobre o seu filho. Carlos Eduardo dos Santos Nascimento, 20 anos, desapareceu na tarde de sexta-feira (29/12) depois de ser abordado com outros amigos por policiais militares, segundo relato de testemunhas.

Quem estava naquele dia no bairro Jardim São Camilo, periferia da cidade, conta que o grupo de cinco jovens curtia um churrasco feito em um bar da favela quando a PM chegou. Os policiais revistaram os cinco, mas apenas Carlos Eduardo teve o celular apreendido, foi colocado na viatura e levado pelos policiais. Ele era o único negro do grupo.

Dali por diante, amigos e familiares não têm mais notícias do jovem e estão atrás de quaisquer informações do paradeiro, seja em órgãos oficiais ou no entorno do bar. “Estive duas vezes na delegacia de plantão na sexta-feira e disseram que ele não tinha dado entrada”, conta o pai, Eduardo. “Fui em hospitais, IML (Instituto Médico Legal) e nada. É como se abrisse um buraco no mundo, ele caísse e nunca tivesse existido”, desabafa.

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No sábado, dia seguinte ao desaparecimento, familiares se reuniram e começaram a buscar por Carlos Eduardo ou indícios de seu sumiço em uma mata que fica próxima ao local da abordagem, conforme os relatos. As tentativas pessoas se estenderam até a quarta-feira, dia 31 de dezembro e data da virada do ano.

“Saímos de lá era 20h, éramos em cinco pessoas. Andamos bastante”, conta Eduardo, citando que apenas a família atuou nas buscas, nenhum órgão do poder público ajudou. Apenas nesta quinta-feira (2/1) a família foi chamada para depor na DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Jundiaí.

“Como some desse jeito e o povo do bairro fala que ele foi colocado dentro da viatura? Toda a população do bairro fala isso, que foi pego pela polícia”, desabafa, acrescentando que os amigos imaginaram ser uma abordagem de rotina e só estranharam no momento em que apenas Carlos Eduardo foi levado pelos PMs.

“Eles falaram isso, que foram abordados, todos revistados, pegaram ele, o celular e foram embora. Daquele dia em diante não conseguimos mais falar no celular dele, dá como se o número não existisse”, afirma o segurança. “Está um caos desde sexta-feira”.

Santista que vivia de bicos

Carlos Eduardo é um rapaz tranquilo que fazia seus bicos enquanto procurava emprego formal, conta o pai. Sem carteira assinada, se virava com pintura de casas, serviço que o garantia semanalmente de R$ 300 a R$ 400.

“O Carlos Eduardo entregava currículos para conseguir um emprego. Fazia os bicos com pintura e também ajudando na carga e descarga de caminhão. Um amigo chamou, estava assim desde outubro, novembro, aproximadamente”, comenta Eduardo.

O rapaz pretendia encerrar os estudos nesse ano, retomando o ensino médio para concluir o terceiro ano. Depois, seria a vez do pai agir: segurança de uma universidade de Jundiaí, usaria seu direito como funcionário para matricular o filho em um curso, ainda indefinido. 

“Como trabalhamos, temos uma bolsa gratuita Ele ainda não tinha escolhido o curso.. Ia atrás dele terminar o terceiro ano e ia dar uma bolsa na faculdade, mas… espero que ainda dê tempo”, desabafa o segurança, que trabalha há cinco anos no local.

Nos dias de folga, o rapaz se dividia entre o futebol e a ida aos bares com os amigos. Ele torcia para o Santos, time da Baixada Santista. “Gostava de jogar bola, queria sempre jogar. Nos finais de semana, era isso e também jogava baralho com os amigos”, prossegue Eduardo.

Ponte questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), sobre o desaparecimento de Carlos Eduardo. A reportagem também solicitou posicionamento oficial à PM. No entanto, pasta e corporação não responderam até a publicação desta reportagem.

*Esta reportagem foi publicada originalmente pela Ponte.

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