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Demitido por suspeita de assédio, professor da Unesp se defende: “nunca houve qualquer prova”

Marcelo Magalhães Bulhões atuava na Unesp desde 1994

Professor há trinta e quatro anos, Marcelo Magalhães Bulhões diz viver “um constante pesadelo”, após ser acusado de assédio sexual por alunas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru, interior de São Paulo. Em julho de 2022, Bulhões foi afastado do cargo por recomendação de uma comissão de sindicância. No mês passado, acabou demitido pela Unesp.

“Nunca houve qualquer documento, qualquer prova”, afirma o professor ao SP Agora.

Bulhões, que atuava na Unesp desde 1994, sempre negou as acusações. Mestre e doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e livre-docente pela Unesp, o professor é autor de seis livros nas áreas de literatura, jornalismo e cinema.

Marcelo Magalhães Bulhões, professor (Arquivo pessoal)

“Foi o que eu sempre fiz na vida: dar aula, escrever artigos, orientar alunos na pós-graduação”.

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Abaixo, o professor comenta a acusação e se defende.

SP Agora – O seu desligamento ocorre em função de recomendação da comissão criada para investigar as denúncias de assédio sexual, baseada em documentos. Qual sua versão para o ocorrido?

Nunca houve qualquer documento, qualquer prova. Tudo começou na tarde do dia 01 de julho de 2022. Eu daria aula à noite e recebi uma ligação do meu chefe me dizendo que um sujeito anônimo entrou no campus, afixou cartazes anônimos e desapareceu. Com os cartazes os alunos estavam fazendo protestos pelo campus. Fui até lá e ao ver os cartazes eu sabia naturalmente que aquilo era uma montagem, algo produzido com a única intenção de me destruir. Eu disse isso à diretora naquela mesma tarde. Mas não adiantou. Jornais, televisão e portais na internet já estavam repercutindo o ocorrido. Era tempo de intensa disputa eleitoral e duas candidatas feministas foram a Bauru e utilizaram o “escândalo” em suas campanhas. Quanto ao sujeito que entrou no campus e distribuiu os banners fakes, foi identificado pelas câmeras. Não pertencia à vida acadêmica, não era aluno, professor ou funcionário. Atualmente, esse indivíduo responde criminalmente pelo que fez.  

SP Agora – O senhor manteve conversa em rede social com alunas, caracterizando o crime de assédio?

Eu fiquei traumatizado com uma sindicância feita em 2017 na Unesp, que apurou acusações – vindas do Facebook – de assédio envolvendo o meu nome. Então passei a evitar qualquer contato, mínimo que fosse, com alunos e alunas, o que inclui as redes sociais.

Fachada da Unesp, em Bauru (Unesp/Reprodução)

Passei a ter um grande receio, medo mesmo, das redes sociais. A sindicância realizada em 2017 declarou que nunca meu comportamento se caracterizou como assédio ou algo semelhante. Aliás, na ocasião eu tive em torno de vinte depoimentos de orientandas, mulheres que conviveram profissionalmente comigo de maneira muito próxima. Vinte depoimentos que afiançaram meu profissionalismo. Até que veio o episódio dos banners fakes em 2021. Inocentado, passei a ser tratado como culpado em razão daquela peça montada, os tais cartazes/banners.  

SP Agora – O que espera como conclusão das apurações? 

Só posso esperar por justiça. Tive meu nome, minha trajetória profissional e pessoal destruídos. Vivo um constante pesadelo. Meus advogados vão recorrer à instância da Reitoria da Unesp para demonstrar o absurdo da minha condenação. Trata-se de minha vida, minha dignidade, violentada e aviltada.

SP Agora – Há algo mais que o senhor queira declarar e que não foi perguntado?

A questão que se põe, claríssima, é o chamado cancelamento. O linchamento midiático já havia acontecido em torno do meu nome. Não adiantou que nenhuma prova tenha chegado. Era preciso continuar, pois as militâncias cobravam punição. Para o “caso Bulhões”, não fez a menor diferença que não tenham aparecido “vítimas”. Não apareceram depoimentos, não apareceram e-mails, prints de tela, gravações de áudio ou vídeo, mensagens ou qualquer outro elemento. Depois da propagação da denúncia nas redes sociais, ativadas pela mídia e pelas militâncias (sempre apoiei, aliás, o movimento feminista), um abaixo-assinado colheu mais de sete mil assinaturas pedindo a minha exoneração. Sete mil! Não apareceu uma única vítima durante a sindicância e durante todo o processo administrativo! Não apareceu uma única prova! Não apareceram provas porque nunca existiram. Tudo o que constou ao fim do processo foi uma única aluna que teria “se sentido constrangida” porque o professor teria “apontado o dedo para sua camiseta”, em uma sala de aula com quarenta alunos. Esse episódio – na sala de aula eu fazia uma exposição sobre a presença da ficção no mundo atual e dei o exemplo do desenho na camiseta dela – aconteceu em 2019. Não houve na época qualquer queixa por parte dela ou do grupo dos alunos. Ela nunca foi lá reclamar? Não fez isso espontaneamente por uma única razão: ela não considerava, nunca considerou essa conduta inadequada. Como de fato não foi. Ela foi convocada pela comissão do processo administrativo a partir de um “ouvi dizer”. E com isso se fez a condenação sumária de um professor com quase trinta anos de universidade pública, a minha demissão.

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