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Putin e Biden se encontram nesta quarta-feira

Há semanas, um assunto de política externa domina o noticiário na Rússia: a reunião em Genebra entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta quarta-feira (16/06). Mesmo os pequenos detalhes, como o local da reunião, uma mansão do século 18, são noticiados como se se tratasse de uma recepção quase real.

Oficialmente, o Kremlin mantém as expectativas baixas para o encontro. Diz que não se deve esperar nenhum avanço na relação bilateral.

Putin afirmou que o fato de ele estar se reunindo com Biden “por si só não é ruim”. “Eu espero um resultado positivo”, disse o presidente russo. Do ponto de vista dele, isso seria, por exemplo, um acordo sobre os próximos passos para “normalizar as relações russo-americanas”.

Em entrevista ao canal americano NBC, Putin atestou que essas consultas estão no “nível mais baixo em anos”. O ponto de vista russo é que a culpa é da política interna dos EUA.

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Anseio por conversas francas

“Há um senso de positividade muito forte” na Rússia, diz Tatiana Stanovaya, especialista do Centro Carnegie de Moscou.

O influente chefe de Segurança Nacional da Rússia, Nikolai Patrushev, por exemplo, expressou um otimismo incomum após conversas com seu homólogo americano, Jake Sullivan. Os dois haviam se reunido em Genebra em maio para se preparar para a cúpula presidencial.

Em alguns pontos foi possível um acordo com os Estados Unidos, Patrushev disse depois ao jornal governamental Rossiyskaya Gazeta. “Os russos não esperavam que os EUA estivessem tão abertos à visão da Rússia”, comentou a especialista Stanovaya.

Desde o colapso da União Soviética, os principais políticos russos expressaram repetidamente o desejo de falar novamente com Washington em condições de igualdade. A Rússia, diz Stanovaya, pode ser economicamente mais fraca que os Estados Unidos, mas como é comparativamente forte em armas nucleares, “nada mais importa”.

“A Rússia precisa urgentemente ser aceita como uma grande potência”, comenta Hans-Henning Schröder, ex-especialista em Rússia no instituto alemão SWP. A atenção midiática que antecede a cúpula, diz ele, sugere que Putin tem um interesse maior nisso do que Biden. Especialistas russos, no entanto, ressaltam que foi o presidente dos EUA que tomou a iniciativa de convocar a reunião.

A cúpula assimétrica de Genebra

A relação tensa entre Moscou e Washington desde a anexação da Crimea sofreu vários contratempos. Biden chamou Putin de “assassino” em uma entrevista em março, e Moscou retirou seu embaixador de Washington.

O líder do Kremlin propôs um debate público ao vivo, mas o presidente dos EUA recusou. Em vez disso, Biden, em seguida, impôs novas sanções à Rússia, inclusive por tentativa de interferência nas eleições presidenciais de 2020, o que Moscou nega.

Diplomatas russos foram expulsos dos EUA. Moscou respondeu expulsando diplomatas americanos e disse ao embaixador dos EUA que ele deveria retornar para casa. Desde então, as embaixadas de ambos os países estão sem conexão. Ao mesmo tempo, houve uma enorme acumulação de tropas russas na fronteira com a Ucrânia. Neste contexto, Biden ligou para Putin em abril e propôs uma cúpula.

Muitos observadores insinuam que o líder do Kremlin acabou forçando Biden a convocar a reunião com a ameaça de escalada no leste da Ucrânia. Andrei Kortunov, diretor do instituto russo de política externa RSMD, não compartilha dessa tese. Ele não descarta, porém, a possibilidade de que a “minicrise sobre a Ucrânia” possa ter “motivado adicionalmente” o presidente dos EUA a se encontrar com Putin.

“Tais cúpulas colocam nossos países em pé de igualdade. Isso é importante para o status e a posição da Rússia na política mundial”, diz Kortunov.

Tatiana Stanovaya também fala de uma “atitude assimétrica”: “Para a Rússia esta cúpula é tudo, enquanto para Biden é apenas um passo no caminho para resolver o ‘problema da China'”, diz a especialista. Para Washington, afirma ela, as futuras negociações com a China são um assunto mais prioritário.

Russos buscam “estabilidade estratégica”

Essa discrepância também se reflete nos preparativos para a cúpula. Um diplomata russo de alto nível lamentou que Washington não estivesse preparado para fazer um balanço completo das relações bilaterais em Genebra. Moscou tem buscado amplas discussões sobre questões-chave com Washington desde a época soviética, diz Andrei Kortunov. Os EUA, por outro lado, são conhecidos por preferirem lidar primeiro com tarefas menores e pragmáticas.

Putin e Biden não devem sentir falta de tópicos para discussão em Genebra. Do ponto de vista de Moscou, “estabilidade estratégica” seria o tema mais importante, diz Kortunov. Hans-Henning Schröder tem uma visão semelhante: “Eles querem um acordo sobre armas nucleares estratégicas.”

Depois que os EUA se retiraram de vários acordos com a Rússia, Biden interrompeu essa tendência quando estendeu o acordo de redução de armamento nuclear “New Start” em janeiro. Moscou quer construir uma conversa a partir disso em Genebra. Não apenas armas nucleares tradicionais estarão em pauta, mas também espaço, ciberataques e uso de drones, diz Andrei Kortunov. O fim do confronto diplomático também deve estar no topo da lista de desejos da Rússia.

Em questões relacionadas à Ucrânia ou aos direitos humanos na Rússia, especialistas veem poucas chances de aproximação. Moscou só está preparado para aceitar as críticas de Biden como uma espécie de “programa obrigatório”, diz Tatiana Stanovaya.

As esperanças russas de um novo começo com os EUA são, portanto, frágeis. A especialista advertiu que o fracasso das conversações em Genebra poderia levar Moscou a “comportar-se ainda mais agressivamente e sem consideração pelo Ocidente”, inclusive a nível interno.

Do ponto de vista da Rússia, um objetivo já foi alcançado antes da cúpula: a reunião será realizada. Mas não haverá uma encenação para a imprensa, o que Putin queria. Biden recusou uma coletiva de imprensa conjunta em Genebra.

Por Roman Goncharenko, da Deutsche Welle

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