João Doria deixa Prefeitura de SP após 15 meses; vice Bruno Covas assume
O prefeito João Doria (PSDB) deixou a Prefeitura da capital paulista na tarde desta sexta-feira (6), após um ano e três meses à frente do cargo em cerimônia na sede da administração municipal, no Centro. Ele deixou o cargo para poder disputar candidatura pelo governo do estado de São Paulo nas eleições de outubro.
O vice-prefeito, Bruno Covas (PSDB), assume o posto com a herança de promessas feitas por Doria durante a campanha. Em seu primeiro ano de governo, Doria cumpriu 12 das 80 promessas.
Além de iniciar as pendências deixadas pelo seu antecessor, Covas terá de lidar com projetos difíceis e polêmicos iniciados na antiga gestão tucana, como o fechamento de mais de 100 AMAs, o pacote de mais de 50 lotes de privatizações, a reforma da Previdência municipal, concessões de limpeza urbana, transportes e iluminação pública.
Na cerimônia desta sexta-feira, acompanhada pelos secretários municipais, Doria apresentou um vídeo com oito minutos de duração em que ele fala de seus 15 meses de trabalho.
Do lado de fora da Prefeitura, manifestantes protestaram contra Doria, usando um boneco do personagem Pinocchio. Eles também levaram cartaz com a frase “Mentiu pra todos. Tenha Dó…Ria”.
No vídeo exibido dentro da Prefeitura, o ex-prefeito comentou a repercussão de sua saída do Executivo municipal.
“Entendo e respeito o sentimento de quem desaprova a minha saída da Prefeitura. Confesso, foi uma decisão muito difícil, mas é fundamental que a Prefeitura e o governo do estado estejam alinhados, trabalhando juntos de forma colaborativa. A cidade tem muito a ganhar com isso”, disse Doria.
O prefeito empossado, Bruno Covas, falou sobre alguns pontos que ficaram pendentes para a sua nova gestão, como a polêmica envolvendo a PPP da iluminação, marcada por denúncias de pagamento de propina pela ex-diretora do Departamento de Iluminação Pública (Ilume) Denise Abreu.
“Em relação ao Ilume, estamos aguardando a manifestação do Tribunal de Contas para saber qual andamento será dado em relação à PPP da iluminação pública, com total transparência e colaboração com os órgãos que investigam o caso”, disse.
Ele também citou a reforma da Previdência dos serviço público municipal, que teve a votação na Câmara dos Vereadores adiada. “Sobre a reforma da Previdência, o Executivo fez sua parte – apresentamos a nossa proposta. Ela foi enviada a Câmara dos Vereadores e agora o movimento é dela”, continuou.
Bandeira da gestão e desgate
Doria iniciou o mandato assumindo como bandeira a zeladoria, mas enfrentou críticas pela diminuição de ações da prefeitura. Ele enfrentou desgaste também com o excesso de viagens para fora da cidade ao tentar alavancar uma pré-campanha presidencial, e viu sua popularidade cair.
Já em 2018, viu sua gestão envolvida num escândalo de propina dentro do Ilume, que resultou na demissão da diretora do órgão, Denise Abreu.
Outros dois membros da Prefeitura deixaram os cargos nesta sexta: o chefe de gabinete de Doria, Wilson Pedroso, e o secretário das Prefeituras Regionais, Cláudio Carvalho. Os dois devem participar da campanha eleitoral de Doria ao Palácio dos Bandeirantes.
Covas também ocupava o cargo de secretário da Casa Civil, que fica vago.
Promessa descumprida
Em 2016, durante a campanha para assumir a chefia do Executivo municipal, Doria garantiu, em entrevista ao G1 no dia 21 de setembro de 2016, que se fosse eleito, cumpriria “todo o mandato”. “Serei prefeito por quatro anos e sem reeleição”, disse Doria à época.
Em março deste ano, contudo, registrou sua pré-candidatura ao governo do estado. Na sequência, tentou garantir proteção policial a ex-prefeitos por meio de um decreto – que acabou sendo revogado -, concorreu com correligionários e foi definido como pré-candidato ao governo com 79,62% dos votos do PSDB.
Em seu discurso no partido, ele alegou que “São Paulo não perde um gestor, São Paulo ganha dois gestores”, e argumenta que ele fará “uma gestão compartilhada com a prefeitura, assim como temos feito com o governador Geraldo Alckmin (PSDB)”.
A decisão de apoiar a candidatura de Doria enfrentou resistência dentro do próprio partido, principalmente de membros mais antigos da sigla. Um dos principais críticos foi ex-senador José Aníbal, para quem os tucanos erravam ao praticar o que chamou de “recall do prefeito”.
“O partido está errando, a direção partidária está atropelando, desrespeitou normas regimentais, é um processo por rolo compressor. É um pressuposto de que o recall do prefeito é o melhor recall entre os pré-candidatos e isso o qualifica para ser candidato a governador. Pelo contrário, o prefeito sai da prefeitura e sai muito criticado pela população de São Paulo, que confiou nele, que acreditou na palavra dele. Ele não tem palavra, ele não cumpre, ele disse que ia ficar, mas mais grave que isso, o que ele disse que ia fazer, ele não fez. Ele sujou a ideia do gestor, ele é um mau gestor, ele é um político carreirista”, disse Aníbal.