Bolsonaro vence enquete da ‘Time’ como personalidade do ano
O presidente Jair Bolsonaro celebrou nesta terça-feira (07/12) sua eleição para Personalidade do Ano pelos leitores da revista americana Time, dias antes de a publicação anunciar a sua escolha oficial para 2021.
O vencedor dessa enquete aberta para qualquer usuário da internet não é a Personalidade do Ano tradicionalmente escolhida pelos editores da Time. A revista só deverá anunciar o nome deste ano em 13 de dezembro
Não é incomum que a votação popular no site da revista seja instrumentalizada por apoiadores de figuras controversas ou deturpada por grupos organizados de trolls. Logo na primeira edição da votação popular, em 1998, o vencedor foi o antigo astro da luta livre Mick Foley, também conhecido pelo nome Cactus Jack.
Nos anos seguintes, figuras controversas como Hugo Chávez, Kim Jong-un e Abdel al-Sisi (o presidente do Egito) também venceram a votação online. No caso de Kim, a vitória, em 2012, foi atribuída a uma movimentação de usuários do 4Chan que queriam “trollar” a revista. Já as eleições de Chávez e Sisi foram celebradas por seus apoiadores da mesma forma como ocorreu com Bolsonaro.
No final, o resultado da votação popular não tem nenhuma influência nas escolhas dos editores da revista e é encarado por observadores apenas como uma forma de gerar tráfego e engajamento para o site da Time.
Nos dias anteriores ao anúncio do resultado, diversas redes bolsonaristas no Whatsapp e Facebook convocaram apoiadores do presidente brasileiro a votar no site da revista. Influencers bolsonaristas também conclamaram seus seguidores no Twitter a fazer o mesmo. O próprio presidente fez campanha ao pedir votos na sua tradicional live de quinta-feira.
Com essa movimentação organizada, Bolsonaro acabou abocanhando 24% dos 9 milhões dos votos online registrados na enquete da revista.
De acordo com a revista, Bolsonaro bateu o ex-presidente americano Donald Trump, o segundo mais votado pelos leitores, com 9% dos votos, e os profissionais de saúde que trabalham no combate à pandemia, que ficaram em terceiro lugar, com 6,3%.
Bolsonaristas festejam, mas distorcem significado
Bolsonaro festejou o resultado. Nas redes sociais, agradeceu àqueles que votaram nele. Bolsonaro também ficou visivelmente satisfeito quando o ministro do Trabalho e da Previdência, Onyx Lorenzoni, anunciou o resultado durante um evento no Palácio do Planalto, nesta terça-feira
Outros ministros, como Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) também celebraram o resultado.
Vários influencers bolsonaristas também trataram de divulgar o resultado da enquete da Time, muitas vezes distorcendo seu significado e pintando falsamente o episódio como se Bolsonaro tivesse sido efetivamente escolhido como “Personalidade do Ano” pela revista. Alguns chegaram a divulgar montagens com falsas capas da Time que mostram Bolsonaro, tentando reforçar a confusão.
Líder controverso
Apesar do tom festivo adotado pelos bolsonaristas, a Time usou um tom mais crítico na nota que anunciou o resultado da enquete.
No texto, a revista afirmou que “o controverso líder, candidato à reeleição em 2022, enfrenta uma desaprovação crescente pela sua gestão da economia e críticas generalizadas de políticos, tribunais e especialistas em saúde pública por minimizar a severidade da covid-19 e mostrar ceticismo em relação à vacina”.
A revista acrescentou que Bolsonaro é investigado pelo Supremo Tribunal Federal por ter afirmado falsamente que a vacina contra a covid-19 pode aumentar as chances de se contrair aids.
“Um relatório do Senado, em outubro, recomendou que o presidente seja acusado de vários crimes por má gestão da pandemia, que já matou mais de 600 mil pessoas no Brasil. Bolsonaro tem negado repetidamente qualquer ato ilícito”, acrescentou a Time.
Para o bem ou para o mal
A Personalidade do Ano é escolhida pelos editores da revista desde 1927 e inicialmente se chamava Homem do Ano. A escolha reconhece a influência de uma pessoa ou ideia durante o ano em questão, para o bem ou para o mal, e não tem relação com a votação online, que só começou em 1998.
A escolha para a capa da revista costuma ser encarada como uma honra ou distinção por alguns, apesar de a revista destacar que se trata da eleição da personalidade mais influente do ano, “para o bem ou para o mal”, e de recordar que nomes como Adolf Hitler e Joseph Stalin já foram escolhidos.
Por Deutsche Welle
as/lf/jps (Lusa, OTS)