Ministério da Justiça determina investigação de grupos nazistas
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, determinou na madrugada desta quinta-feira (06/04) a abertura de um inquérito da Polícia Federal (PF) para investigar organizações nazistas e neonazistas no Brasil, no âmbito de crimes como racismo e apologia ao nazismo.
Segundo o ministro, existem suspeitas de que essas redes atuem em estados diferentes. “Assinei agora determinação à Polícia Federal para que instaure Inquérito Policial sobre organismos nazistas e/ou neonazistas no Brasil, já que há indícios de atuação interestadual. Há possível configuração de crimes previstos na Lei 7.716/89”, escreveu o ministro em uma rede social.
A lei mencionada por Dino, sancionada pelo então presidente José Sarney, define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
Célula “neonazista transnacional” em SC
Uma reportagem do programa Fantástico da Rede Globo no último domingo revelou que a Polícia Civil do estado de Santa Catarina havia descoberto uma filial no Brasil de uma organização internacional de supremacia branca.
As investigações, que resultaram na prisão de dez suspeitos, concluíram que o grupo planejava criar uma célula radical de supremacia branca no Brasil. A Polícia catarinense disse ter encontrado mensagens criminosas nos telefones dos investigados, incluindo uma que afirmava que “pretos têm que morrer todos os dias”.
Policiais envolvidos na ação disseram se tratar de uma “organização skinhead neonazista transnacional”, e que foram encontradas com os suspeitos roupas que os identificam como um grupo neonazista.
Os integrantes do grupo recrutavam jovens por meio de contatos via internet para participarem de outras células neonazistas.
Nos Estados Unidos, essa organização é considerada uma dos mais violentas e organizadas, e possui ramificações na Alemanha, Portugal e outros países.
Em duas décadas, 17 ataques em escolas
Dino determinou a ação da PF após a ocorrência de dois ataques violentos em um curto espaço de tempo, em uma escola de São Paulo e numa creche em Santa Catarina.
Nesta quarta-feira, um homem de 25 anos invadiu uma creche na cidade catarinense de Blumenau portando uma machadinha e matou quatro crianças, deixando outras cinco feridas.
Na semana passada, uma professora foi morta durante uma aula por um aluno de 13 anos em uma escola de São Paulo. A ação de outras duas professoras, que imobilizaram e desarmaram o agressor, evitou um massacre ainda maior.
O ataque, ocorrido na Escola Estadual Thomazia Montoro, no bairro de Vila Sônia, apresentou padrões semelhantes aos de outros atos de violência em instituições de ensino no Brasil nas últimas duas décadas.
Em entrevista ao jornal O Globo, o professor e pesquisador na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Cara afirmou que esses padrões são o prenúncio do ataque pela internet, a exaltação de outros agressores que se são vistos como mártires e o uso de símbolos neonazistas.
“Extremismo de direita é ponto nevrálgico”
O pesquisador organizou um relatório elaborado por 12 especialistas em educação e extremismo que contém sugestões para evitar esse tipo de ataque.
Sobre o ataque à escola paulista, ele diz que “entender que se trata de extremismo de direita é um ponto nevrálgico, porque esses grupos têm caráter neonazista. Mesmo que os jovens não se identifiquem como neonazistas, eles usam os mesmos símbolos, as mesmas referências”.
O atentado em São Paulo foi o 17º ataque criminoso em escolas brasileiras nas duas últimas décadas, sendo que seis deles ocorreram nos últimos 12 meses.
Em novembro, na cidade de Aracruz, no Espírito Santo, um agressor atacou duas escolas, matando três professoras e uma criança. Ele usava trajes militares, uma suástica no braço e uma máscara de caveira.
Esse tipo de máscara virou uma referência simbólica para o extremismo, depois de ter sido usada pelo atirador que matou oito pessoas em um escola de Suzano, em São Paulo, em 2019. O jovem que realizou o atentado na escola Thomazia Montoro na semana passada também usava uma máscara semelhante.
Aumento das células extremistas
Um levantamento realizado pela da ONG Anti-Defamation League (ADL) em 2022 concluiu que o Brasil é o país onde mais cresce o número de grupos de extrema direita, especialmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Segundo o estudo, monitorado pela doutora em antropologia pela Universidade de Campinas (Unicamp) Adriana Dias, que morreu em janeiro deste ano, a maioria desses grupos (137) está em São Paulo, sendo que a maior parte está concentrada na capital, com 51 células.
De acordo com os dados, havia no país mais de 530 grupos extremistas nos primeiros meses de 2022, contra 334 células que foram identificadas em 2019.
Dias dividiu esses grupos em categorias como hitlerista/nazista, negação do Holocausto, ultranacionalista branco, radical catolicismo, fascismo, supremacista, criatividade Brasil, masculinismo, supremacia misógina e neo-paganismo racista.
rc/lf (ots)