Falta de energia já dura três dias e gera prejuízos para moradores e comerciantes em São Paulo
Chuva e vento forte causam mortes, alagamentos e transtornos na capital e na região metropolitana
Milhares de pessoas ainda sofrem com a falta de energia elétrica em São Paulo após a forte chuva com rajadas de vento que atingiu o estado na última sexta-feira (3). O temporal causou estragos, mortes e transtornos em diversas cidades. A Enel, concessionária que atua na capital e em mais 23 municípios da região metropolitana, disse que a previsão de normalização do fornecimento de energia deve acontecer até terça-feira (7), mas alguns casos podem demorar mais tempo. A empresa também disse que priorizou o restabelecimento de energia nas áreas onde as provas do Enem foram realizadas no domingo (5).
A velocidade dos ventos, segundo a Defesa Civil estadual, chegou a 151 quilômetros por hora (km/h) em Santos, conforme dados da administração portuária. Na capital paulista, as rajadas alcançaram 103,7 km/h, recorde dos últimos cinco anos. Defesas civis e o Corpo de Bombeiros registraram mais de 2 mil chamados em ocorrências em 40 municípios do estado, a maioria por queda de árvore.
Seis pessoas morreram em decorrência dos temporais, quatro delas por queda de árvores, sendo uma em Osasco, uma em Suzano, municípios da Grande São Paulo; e duas na zona leste da capital paulista. Também houve óbito em Limeira, por desabamento de um muro, e em Santo André, devido à queda da parede de um prédio.
Comerciantes de bairros da zona sul paulistana registraram significativa perda de produtos e clientes, enquanto moradores lidam com transtornos na rotina. A Porto Maria Padaria, que fica na Vila da Saúde, teve enorme prejuízo, já que trabalha com uma grande quantidade de produtos perecíveis. Os donos do local tiveram que fechar as portas até que a energia volte e, com isso, pediram aos funcionários que fiquem em casa, com exceção de alguns que ajudam a organizar a loja, se desfazendo dos alimentos e bebidas que estragaram e higienizando prateleiras, chão, fornos e congeladores.
A loja ficou sem luz após um poste ter explodido, logo depois que a energia foi restabelecida em uma parte da Avenida Bosque da Saúde, onde está localizada. Desde então, um dos sócios do estabelecimento, o português Baltazar Lisboa, tenta acionar a Enel, que fornece o serviço na capital, sem que a companhia envie uma equipe ao endereço, para solucionar o problema. Na última vez em que ligou, no início do dia de hoje, o atendente da empresa informou, por telefone, que iria enviar alguém até 10h, o que não aconteceu. Em outras ligações que fez, chegou a permanecer por um hora e meia na fila, aguardando um atendente.
O aposentado Vasco Quito mora exatamente na casa diante da qual fica o poste que explodiu e provocou a segunda queda de energia na região. Ele relata que estava dentro de casa quando ouviu um estrondo e que chegou a avisar à equipe da Enel estava na rua de cima prestando serviço.
Quando aconteceu a explosão do poste, quase ficou incomunicável, porque, na hora, seu carregador de celular queimou. A sorte foi que um primo seu, que vive na rua perpendicular à sua, tinha um semelhante e pôde emprestar a ele, que assim conseguiu seguir ligando para a companhia, em busca de atualizações sobre a estimativa de retomada do serviço. “No sábado, restabeleceu o fornecimento na parte de cima [da avenida], mas aí estourou o poste aqui”, contou. “Transtornos, estou tendo vários. Minha esposa precisa usar inalador. Minhas coisas todinhas do freezer estragaram, da geladeira, laticínios, porque não tenho outro lugar aonde levar.”
A falta de energia elétrica também afetou a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste domingo (5). Das 308 escolas que receberiam o exame na capital, 84 tiveram algum problema de fornecimento de energia elétrica. A Enel disse que priorizou o restabelecimento da energia nessas áreas e que mobilizou geradores para atender os casos que não fossem possíveis de resolver até o dia da prova.
A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, vai notificar a Enel sobre a falta de energia elétrica na capital e mais 23 municípios. A crise de energia ocorre após um forte temporal que atingiu o estado na sexta-feira, 3, e matou sete pessoas. A Senacon quer saber quais medidas a empresa está tomando para restabelecer o serviço e quais são os direitos dos consumidores afetados.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, disse que 413 mil consumidores ainda estão sem energia elétrica na cidade de São Paulo nesta segunda-feira (6). Ele responsabilizou a Enel pela demora e disse que rajada de vento atípica dificultou os trabalhos. Ele informou que ainda há 125 árvores esperando remoção na capital, e que Enel também precisa “dar as respostas que a população precisa”.