Médica cria instituto para proteger animais silvestres
Há dez anos a médica dermatologista Raquel Machado, mineira, radicada na capital paulista, comprou um sítio em Porto Feliz, no interior de São Paulo, e se deparou com uma triste situação que a deixou angustiada: o antigo proprietário abandonara no local um papagaio, já preso em uma gaiola por muitos anos, vítima do tráfico de animais silvestres.
Sensibilizada pela condição de vida do animal, Raquel, que sempre foi apoiadora de causas socioambientais, procurou o CRAS de São Paulo (Centro de Recuperação de Animais Silvestres) na tentativa de reintroduzir a ave ao seu habitat. Foi quando descobriu que muitos dos bichos retirados da natureza não poderiam mais retornar a sua vida nativa.
Este foi o início de um projeto para montar uma mantenedora autorizada pelo IBAMA em seu sítio, transformando os 25 hectares do local em um santuário para receber animais resgatados do tráfico e que precisavam, agora, ser criados em cativeiro. Lar para mais de 200 animais, como araras, papagaios, macacos prego, bugios, tucanos, lobinhos, periquitos, cachorros, cavalos e entre outros, o mantenedor é sustentado por ações da própria médica, que destina 20% do faturamento de sua clínica dermatológica, no Itaim Bibi, bairro da cidade de São Paulo, para manter o sítio em funcionamento.
Em 2020, após muitos anos de trabalho ativo por conta própria, Raquel formalizou a criação do Instituto que leva o seu nome para ganhar mais força e desenvolver outros projetos com impacto maior na sociedade. As queimadas na região no Pantanal foram um impulso para o projeto ganhar vida. E uma das primeiras iniciativas foi providenciar o transporte da onça pintada Ousado – que teve suas patas queimadas e foi resgatada na região do Rio Corixo Negro – até a Ong NEX em um trajeto de 13 horas. A onça já está recuperada e pronta para retornar ao seu habitat.
“A ideia de fundar um Instituto surgiu como forma de facilitar o acesso das pessoas que tem interesse em ajudar na conservação e preservação do meio ambiente. Hoje, estão entre as minhas iniciativas ajudar a conscientizar mais as pessoas para não comprarem animais silvestres e não incentivar o tráfico”, afirma Raquel Machado.
Os custos para manter o santuário vão desde a compra de mais de 700kg de ração por mês, como a manutenção dos espaços, despesas operacionais e o plantio de frutas produzidas no próprio sítio para alimentação dos animais. Com mão de obra voluntária, Raquel conta com o apoio de familiares, amigos e pacientes e destinou uma sala em sua clínica para sede do Instituto.
Com o passar dos anos, a mantenedora também se tornou responsável pela reabilitação e reintegração de animais a natureza, com um trabalho desenvolvido por uma equipe de médicos veterinários em parceria com outras ONG’s, como a SOS Pantanal, Ampara Silvestre, Ampara Animal, Instituto Arara Azul, Instituto Tamanduá e o projeto Onçafari .
Além disso, os esforços do Instituto não se limitam apenas a mantenedora em Porto Feliz. Hoje, Raquel é proprietária de duas RPPN’s (Reserva Particular do Patrimônio Natural) onde desenvolve um trabalho de preservação e reflorestamento da mata nativa, com o objetivo de ter áreas apropriadas para receber animais resgatados.
Áreas RPPN do Instituto Raquel Machado
Auxiliada pela Fundação Neotrópica do Brasil, Raquel recebeu orientações e adquiriu, inicialmente, duas propriedades de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN’s), sendo elas a Reserva do Saci, no limite com o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, e a Reserva Fazenda Santuário, em Bonito, Mato Grosso do Sul.
Na Reserva do Saci, local com mata 100% fechada e preservada, Raquel faz um trabalho de conservação e apoio a pesquisas, sendo também responsável por cuidar e preservar das nascentes e mananciais existentes no local. Na Reserva Fazenda Santuário, que continha uma antiga área de pasto, o trabalho é voltado para o reflorestamento da RPPN, já ocorrendo lá o plantio de mais de cinco mil mudas de mata ciliar, com pretensão de alcançar mais 100 mil nos próximos cinco anos. Também em seu sítio em Porto Feliz foi feito o plantio de 5 mil mudas em uma antiga área de canavial mantida pelo ex-proprietário.
Instituto é parte do maior projeto de conservação privado do Brasil
O Instituto Raquel Machado também se integrou à iniciativa de outros empresários na defesa do Pantanal e é um dos oito cotistas que comprou a fazenda Santa Sofia, que tem 34 mil hectares, sendo 32 mil ainda em vegetação nativa e 7 mil transformados em reserva privada, ou RPPN – sendo essa a terceira RPPN de Raquel. Este é o maior projeto de conservação privado do país.
Localizada em Aquidauana/MS, a cerca de 200 quilômetros de Corumbá, a fazenda mantém a preservação do local, que corria o risco de perder 50% de sua cobertura vegetal, diante de uma mudança na legislação do estado. O objetivo é fechar um corredor de biodiversidade onde coexistirão, de modo sustentável, pecuária e ecoturismo com recursos de créditos de carbono e créditos de biodiversidade.
Sobre Raquel Machado
Raquel Machado é médica dermatologista, mineira, radicada na capital paulista, e defensora do direito dos animais. Fundou sua primeira mantenedora legalizada pelo IBAMA em 2011, no município de Porto Feliz, estado de São Paulo, para proteger e abrigar animais silvestres vítimas de tráfico e maus-tratos. Em 2020, criou o Instituto Raquel Machado com o objetivo de facilitar o acesso das pessoas que tem interesse em ajudar na conservação e preservação do meio ambiente. Hoje, a médica é proprietária de duas RPPN’s, sendo elas a Reserva do Saci, no limite com o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, e a Reserva Fazenda Santuário, em Bonito, Mato Grosso do Sul. Raquel também é uma das responsáveis pelo maior projeto de conservação privado do Brasil no Pantanal. Para seus projetos, conta com o apoio incondicional da família, em especial do marido, o executivo Irlau Machado Filho, presidente do Grupo NotreDame Intermédica.
*AI