Moradias em áreas de risco: Até quando?
No dia 15 de fevereiro de 2022, assistimos novamente à ocorrência de outro desastre ambiental, dessa vez, na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro. A história se repete, e é sempre a mesma: pessoas morando em locais sabidamente de risco, ocupando áreas que deveriam ser protegidas (áreas de encostas ou várzeas de rios), acontece algum evento um pouco mais intenso e pronto!
A tragédia ocorre, causando muita destruição e levando vidas. Infelizmente, essa não é a primeira vez que vemos essa cena e, certamente, não será a última. Como sei disso? Tenho bola de cristal? Não! Sei disso porque essas tragédias já são anunciadas mas, mesmo assim, o roteiro se repete em várias cidades do Brasil.
Os fatores que levam a essa repetição, ano após ano, são vários, entre eles: a ocupação de áreas protegidas ambientalmente, a dificuldade de realocação da população que ocupa locais vulneráveis, o desafio da maioria das cidades brasileiras em lidar, de maneira preventiva, com o problema e, ainda, a ocorrência, cada vez mais frequente, de eventos climáticos extremos.
Este último fator talvez seja o mais difícil de ser enfrentado, já que depende de esforços internacionais conjuntos. De todo modo, o que as mudanças climáticas nos ensinam é que teremos mais eventos dessa natureza daqui para a frente. E serão, inclusive, mais intensos. Mas então, como lidar com a situação?
A questão das moradias em áreas de risco é, sem dúvida, muito complexa. E, se por um lado, ano após ano, observamos tragédias anunciadas com ações pouco efetivas, do outro, vemos áreas nobres de algumas cidades não serem ocupadas por estarem contaminadas. É claro que não estou sugerindo tirar pessoas de áreas de risco e assentá-las sob uma área contaminada.
Mas hoje, já há tecnologia suficiente e amplamente dominada pelo mercado para tornar esses locais aptos ao uso seguro. Usufruímos delas todos os dias no nosso trabalho. Mas infelizmente, sabemos que muitas áreas deixam de ser recuperadas e desenvolvidas como HIS (habitação de Interesse social) por não haver incentivos econômicos e fiscais claros para esses locais.
É preciso entender que, apesar de termos pessoas morando em lugares extremamente vulneráveis, existem áreas que podem ser recuperadas para abrigar a população de maneira segura. Costurar essas duas pontas depende da mobilização de diversos setores da sociedade dispostos a resolver o problema.
Já temos, por exemplo, incorporadoras com setores especializados em empreendimentos em áreas reabilitadas. Há, igualmente, empresas com conhecimento e tecnologias disponíveis para realizar o trabalho de recuperação desses locais impactados. A questão é saber quais incentivos fiscais e econômicos serão aplicados para que isso prospere. Podemos sentar e continuar assistindo a essas tragédias se repetirem, ou podemos buscar caminhos mais sustentáveis, no sentido estrito da palavra, que visem à melhoria das condições sociais, ambientais e econômicas da nossa população.