Morre Elizabeth 2ª, rainha mais longeva da história
A rainha Elizabeth 2ª morreu aos 96 anos na tarde desta quinta-feira (08/09), de acordo com o Palácio de Buckingham.
O príncipe Charles, de 73 anos, herdeiro do trono desde os três anos de idade, agora é rei e será oficialmente proclamado como tal no Palácio de St James, em Londres, o mais rápido possível.
Elizabeth 2ª era a chefe de Estado de 16 países: além do Reino Unido, ela era a soberana de 15 reinos da chamada Commonwealth (Comunidade das Nações) – entre eles, Austrália, Nova Zelândia e Canadá. Como monarca britânica, ela era também a líder da Igreja Anglicana.
Ela nasceu como princesa Elizabeth Alexandra Mary Windsor, em 21 de abril de 1926, em Londres, a filha mais velha do rei George 6º e Elizabeth Bowes-Lyon. Nessa época, não havia como saber se ela se tornaria rainha, já que seu tio – o príncipe de Gales e, futuramente, rei Edward 8º – e seu pai estavam à sua frente na linha de sucessão ao trono britânico.
No entanto, ela acabou se tornando, em 21 de dezembro de 2007, a mais longeva monarca britânica e, em 9 de setembro de 2015, a ocupar o trono por mais tempo, superando sua tataravó rainha Vitória nas duas contagens.
Elizabeth se torna rainha
Elizabeth ascendeu ao trono depois de seu pai perder a batalha contra um câncer. Ele morreu em 6 de fevereiro de 1952 enquanto ela estava no Quênia, e foi declarada rainha no mesmo dia. Ela foi oficialmente coroada na Abadia de Westminster em 2 de junho de 1953.
Ela recebeu a coroa não apenas devido à morte precoce do pai, mas também por causa da abdicação de seu tio devido ao amor e casamento com uma americana divorciada, Wallis Simpson. Elizabeth nunca conseguiu realmente perdoá-lo por isso. Desde o início, seu reinado foi caracterizado por disciplina e um senso de dever.
Elizabeth pôde também alegar que tinha uma educação “adequada”, conforme uma piada popular entre os britânicos, porque ela recebeu treinamento em mecânica de carros e para dirigir caminhões durante a Segunda Guerra Mundial. Por muito tempo, ela foi o único membro da família real a ter servido o Exército.
O primeiro casamento real da Europa no pós-guerra aconteceu em 20 de novembro de 1947, quando Elizabeth se casou com o príncipe Philip Mountbatten, herdeiro das famílias reais grega e dinamarquesa, que se tornou oficial da Marinha Real e recebeu o título de duque de Edimburgo pouco antes do casamento.
Quando coroada em 1953, Elizabeth jurou dedicar sua vida ao povo britânico. Era um juramento que ela levava a sério: a rainha chegou a ter uma média de 500 atividades oficiais por ano. Isso fez dela a chefe de Estado que mais viajou na história, realizando centenas de visitas reais em todo o mundo a bordo de seu iate real, o HMY Brittania. Elas incluem uma viagem mundial de seis meses em 1953-1954.
Da Baviera para o Reino Unido
A rainha visitou a Alemanha com mais frequência do que qualquer outro país, começando com uma viagem, em 1965, à então dividida Berlim.
A família real britânica tem suas raízes no Castelo Callenberg, em Coburg, hoje localizado na Baviera: em 1840, o príncipe Albert de Saxe-Coburg e Gotha se casou com sua prima, a rainha Vitória, e tiveram nove filhos. O rei George 5º mudou o nome de família para Windsor em 1917, devido ao sentimento antigermânico durante a Primeira Guerra Mundial.
Crise da monarquia
A rainha Elizabeth era uma pessoa reservada. Ela tinha um carinho especial por cavalos e cães, e uma propensão a usar roupas coloridas. Esta não era apenas uma escolha pessoal em seu estilo, mas um esforço para deixar uma marca durante os compromissos reais. Durante seu reinado, ela supervisionou o trabalho de 14 premiês britânicos, que fortemente confiaram em seus conselhos, embora ela tivesse o cuidado de manter suas opiniões políticas longe do olhar público.
Em 1992, um incêndio causou danos ao Castelo de Windsor, a casa da família, e os casamentos de três de seus quatro filhos desmoronaram: a princesa Anne se divorciou de Mark Phillips; o príncipe Andrew e Sarah Ferguson se separaram; e o príncipe Charles – o herdeiro do trono – também enfrentou problemas conjugais com a princesa Diana, de quem se divorciou em 1996.
No mesmo período, o príncipe Charles expôs publicamente o relacionamento controverso que ele tinha com sua mãe e que ela teve com sua esposa, Diana, que era percebida como uma pessoa muito mais calorosa do que Elizabeth.
A morte repentina de Diana em um acidente de carro, em 1997, em Paris, foi um golpe para a família real. Elizabeth foi criticada por não cancelar imediatamente as férias em família em que ela estava na época, e muitos britânicos consideraram que seu poucos comentários públicos vieram muito tarde.
A rainha trabalhou para mudar sua imagem e a da monarquia. Ela foi a anfitriã de um show de rock no Palácio de Buckingham para celebrar seu 50º aniversário no trono em 2002 e deu sua bênção para o casamento do príncipe Charles com Camila Parker Bowles.
A imagem da monarquia, no entanto, sofreu um novo abalo devido à amizade entre o príncipe Andrew, terceiro filho da rainha e duque de York, e Jeffrey Epstein, bilionário americano que foi preso em 2019 sob acusações de comandar uma rede de tráfico sexual. Vieram à tona acusações de que o príncipe abusou sexualmente de uma jovem de 16 anos cerca de 20 anos antes, alegações que ele negou repetidamente. No fim de 2019, Andrew se afastou dos deveres reais após uma catastrófica entrevista na TV.
Uma nova era
Elizabeth teve outra rodada de celebrações para comemorar seu 60º aniversário como rainha em 2012 e surpreendeu a todos quando apareceu ao lado do ator Daniel Craig, que interpretou o personagem James Bond, para abrir os Jogos Olímpicos de Londres.
Seus netos também ajudaram a modernizar a monarquia. O príncipe William, juntamente com sua esposa, Kate, é particularmente querido, e muitos gostariam de ver o príncipe Charles abdicar do trono em favor de William – uma quebra na tradição que Elizabeth não iria permitir.
Uma quebra de tradição ocorreu em janeiro de 2020, quando o irmão de William, o príncipe Harry, e sua esposa americana, Meghan, decidiram se afastar dos deveres da família real. A decisão foi apelidada de “Megxit“, em alusão ao Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia.
Quando Harry e Meghan fizeram o anúncio, Elizabeth fez uma rara declaração pessoal, afirmando que, embora preferisse que eles permanecessem como membros da família real trabalhando em tempo integral, respeitava e entendia o desejo deles de viver “uma vida mais independente como uma família, enquanto permanecem uma parte valiosa da minha família”. A reação da monarca foi amplamente elogiada.
Em abril de 2021, Philip, que foi marido de Elizabeth por 73 anos, morreu, fazendo com que a rainha prosseguisse com seu reinado sem o apoio da pessoa que ela descreveu como sua força.
Admirada, criticada, ocasionalmente zombada, mas sempre respeitada: a rainha Elizabeth 2ª proporcionou uma estabilidade à sua nação durante décadas. A monarquia britânica sob seu reinado foi raramente questionada pela maioria dos britânicos.