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Conflitos na Cisjordânia deixa 64 palestinos mortos e mais de 1.200 feridos


Desde o dia 7 de outubro, a Cisjordânia tem sido palco de um crescente e preocupante aumento da violência, com consequências devastadoras para a população palestina. Segundo dados divulgados pelo Escritório para Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), 64 palestinos foram assassinados e mais de 1.200 pessoas ficaram feridas, incluindo 18 crianças. Esses números têm aumentado diariamente, refletindo a gravidade da situação.

De acordo com o OCHA, a maioria das mortes e agressões ocorre em meio a protestos contra o conflito que se desenrola no Oriente Médio. Essa escalada de violência é provocada tanto pelas “forças israelitas e dos colonos” quanto pelas “forças de segurança palestinas”. Os colonos são os israelenses que vivem na Cisjordânia, uma região marcada por tensões e disputas territoriais.

Por sua vez, as Forças Armadas de Israel alegam que estão realizando operações na Cisjordânia para combater o terrorismo. Desde o dia 7, foram detidos 524 suspeitos de atividades terroristas, sendo 330 deles acusados de serem agentes do Hamas. Somente na noite da última quarta-feira (18), foram presas 80 pessoas.

As autoridades israelenses também afirmam que têm atuado para dispersar motins em cidades da região. Durante essas operações, os suspeitos têm lançado pedras contra as forças de segurança, que têm respondido com meios de dispersão de tumultos.

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A Palestina é um território reconhecido internacionalmente, composto pela Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, e pela Cisjordânia, controlada pela Autoridade Palestina. Enquanto o Hamas é considerado uma organização terrorista por alguns países, a Autoridade Palestina é reconhecida por Israel e pela maior parte da comunidade internacional como o legítimo representante do povo palestino.

O atual cenário de violência na Cisjordânia exige a atenção e a ação da comunidade internacional para buscar soluções pacíficas e garantir a segurança e o bem-estar das populações envolvidas nesse conflito. A escalada da violência e o alto número de vítimas, incluindo crianças, são um chamado urgente por um diálogo construtivo e esforços diplomáticos para alcançar a paz na região.

Restrições

Morador da Cisjordânia, o palestino naturalizado brasileiro Youssef*, de 62 anos, disse que escuta os aviões de guerra passando para bombardear Gaza e que a locomoção está restrita.  

“É um risco sair de uma cidade para outra. Se quero visitar minha mãe no final de semana, não posso. Na semana passada, atiraram em uma casa e em um carro no local onde eu moro”, relatou à Agência Brasil

O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, que está na Cisjordânia, contou à reportagem que, devido às restrições de locomoção impostas por Israel, demorou mais de quatro horas para se deslocar de Ramala a Jericó, cuja distância não passa de 45 quilômetros.  

“Os colonos estão atacando. Estamos em um período agora da colheita das azeitonas e muitos donos de plantação de oliveiras não conseguem chegar aos locais da plantação com medo de ataques dos colonos”, relatou.

A Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) suspendeu suas atividades na Cisjordânia por causa da insegurança na região e por ter enfrentado “severas restrições de acesso e movimento, devido ao fechamento dos pontos de controle e bloqueios de estradas por parte das Forças de Segurança Israelitas”.

Já o Escritório da ONU para Assuntos Humanitários relatou que “colonos israelenses, acompanhados por forças israelenses, atacaram casas palestinas em Madama (Nablus) com coquetéis molotov e atiraram pedras, incendiando um carro e vandalizando outros dois. Em outro incidente, colonos israelenses armados agrediram fisicamente e feriram um pastor e dispararam contra ele e as suas ovelhas, forçando-o a abandonar a área de pastagem em Hebron”.   

Deslocamentos

O Escritório da ONU para Assuntos Humanitários (OCHA) informou que, desde o dia 7 de outubro, 545 pessoas de 74 famílias palestinas foram deslocadas de 13 comunidades em meio ao aumento da violência na Cisjordânia. A instituição da ONU registrou ainda 86 ataques de colonos contra palestinos desde o dia 7.

O regime político-jurídico na Cisjordânia tem sido denunciado como um regime de apartheid por organizações internacionais de direitos humanos, como a Anistia Internacional e o Human Rights Watch.

Em março de 2022, o relator especial da ONU para direitos humanos, Michal Lynk, também classificou como apartheid a situação nos territórios ocupados por Israel na Palestina.

“O sistema político de governo arraigado no território palestino ocupado, que confere a um grupo racial-nacional-étnico direitos substanciais, benefícios e privilégios, ao mesmo tempo que sujeita intencionalmente outro grupo a viver atrás de muros, postos de controle e sob um regime militar permanente sem direitos, sem igualdade, sem dignidade e sem liberdade satisfaz o padrão probatório prevalecente para a existência do apartheid”, afirma o documento.

As autoridades israelenses rejeitam essa avaliação. Em resposta ao relatório da ONU, o então embaixador israelita Meirav Eilon Shahar citou que o texto não leva em conta a insegurança na região provocada pelos grupos palestinos armados.

“O parecer busca deslegitimar e criminalizar o Estado de Israel pelo que ele é: o Estado-Nação do Povo Judeu, com direitos iguais para todos os seus cidadãos, independentemente de religião, raça ou sexo.”

Território segregado

A professora de pós-graduação em relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais Rashmi Singh, que estuda a questão árabe-israelense há 20 anos, explica que a Cisjordânia é subdividida em três áreas distintas, em consequência dos Acordos de Oslo II, assinados em 1995.

As áreas de tipo A (compreendem cerca de 18% da Cisjordânia) estão sob jurisdição administrativa e militar da Autoridade Palestina, as áreas tipo B (22% da Cisjordânia) têm os serviços civis (escolas, hospitais) administrados pela Autoridade Palestina e a segurança por forças israelenses. Já as áreas de tipo C (60% da Cisjordânia) são totalmente controladas pelas autoridades de Israel.

Rashmi contou que os assentamentos ocupam uma posição estratégica, geralmente nas terras mais altas da Cisjordânia.

“Os assentamentos são para não deixar a população palestina em uma área só, mas para dividir os territórios e as populações dos palestinos em ilhas com a presença dos israelenses em todos os lados. É uma estratégia para anexar o território.”

Segundo o relator especial da ONU para direitos humanos Michal Lynk, Israel criou, em 50 anos, 300 colônias exclusivamente judaicas. “Todos elas ilegais, com 700 mil colonos judeus israelenses que vivem agora em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, no meio, mas à parte, de 3 milhões de palestinos”, informa o documento. O Conselho de Segurança da ONU, em resolução aprovada em dezembro de 2016, também afirma que os assentamentos não têm validade jurídica e reiterou a exigência de que Israel cessasse imediata e completamente todas as atividades de colonização no território palestino ocupado.

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