Antes de matar três, homens se identificam como policiais
Vítimas estavam em volta de fogueira em Embu Guaçu (SP): três foram mortos e dois ficaram feridos; um suspeito foi preso
Em frente a um terreno gramado, com duas construções antigas abandonadas, um grupo de oito a dez pessoas conversava. Estavam em frente a uma fogueira por volta das 23h30 de segunda-feira (29/6). Ali, na rua Pedro de Moraes, em Embu Guaçu, na Grande SP, dois homens armados chegaram e atiraram. Três pessoas morreram e duas ficaram feridas na chacina. Um suspeito de participar do ataque foi preso no final da tarde desta terça-feira (30/6), mas a motivação do crime ainda é desconhecida.
É comum os moradores de uma comunidade do outro lado da rua permanecerem no local. Naquela noite, os amigos Edilson da Silva Rosa, 21 anos, Vinícius Fernando Correia Inocêncio, 20, e Ricardo Davi Correia Inocêncio, todos negros, os dois últimos irmãos, conversavam quando a dupla armada chegou e anunciou. “Polícia! Para o chão!”. Edilson duvidou: “Você não é polícia nada”. Em resposta, levou um tiro na cabeça.
Segundo o boletim de ocorrência, testemunhas descreveram o atirador como um homem branco, forte, com 1,75 m de altura, barba clara, cabelo enrolado e curto, vestindo camisa social branca e calça azul moletom. Ele usava uma arma curta, estilo pistola.
O ataque continuou e, além dos tiros de pistola, uma arma de cano longo, não identificada pelos sobreviventes, foi utilizada na ação. O outro homem, descrito como magro, com cerca de 1,80 m, cabelo liso, olho claro e bigode, que usava touca, também atirou.
Além de Edilson, Fernando e Ricardo, os atiradores acertaram outras duas pessoas. Uma delas está em estado grave após passar por cirurgia e a outra teve alta nesta terça-feira (30/6). Apenas a última vítima é branca. A Pontenão vai informar para onde os feridos foram levados por questão de segurança. Os três mortos foram socorridos ao Pronto Socorro de Embu.
“Todo dia tem fogueira, muita criança fica em volta”, conta um morador da comunidade, sob a condição de não ser identificado. Para ele, a chacina foi muito bem planejada. “Não foi à toa que não tinham crianças quando atacaram. É comum estarem lá nessa hora”, afirma. Ele disse que entre 15 e 20 tiros foram disparados.
Uma caminhada de 600 metros separa o local da chacina e a delegacia de Embu Guaçu. São terrenos com mato alto, sem habitação e galpões de empresas pelo caminho. Há poucas câmeras viradas para a rua.
A Polícia Civil não detalhou como andam as investigações e a Ponte esteve na delegacia, mas não foi atendida. No dia 26 de junho, o corpo de um Guarda Civil Municipal de Diadema, cidade na Grande SP, foi encontrado carbonizado em Embu Guaçu. Hernani Lima tinha 41 anos.
A reportagem conversou com policiais civis, que inicialmente não vêem nenhuma relação da chacina com a morte do guarda.
Pai de uma das vítimas, que pediu para não ser identificado, diz que nunca houve “esculacho” da polícia na comunidade. Questionado se teme morar no local, nem hesitou: “Não. Se tiver que acontecer algo comigo, vai acontecer aqui ou em qualquer outro lugar”.
Questionada pela Ponte, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos no governo de João Doria (PSDB), sobre a chacina, a InPress, assessoria de imprensa terceirizada da pasta, respondeu que a delegacia de Embu investiga o caso em parceria com o Setor de Homicídios e de Proteção à Pessoa da Seccional de Taboão da Serra.
“Testemunhas foram ouvidas. Diligências estão em andamento para identificar e prender os autores e esclarecer a motivação do crime. Até o momento, não indícios de participação de policiais na ação”, resume a secretaria.
Por Arthur Stabile – Repórter da Ponte