Extinção de Institutos Públicos compromete prevenção de desastres
Diante de tragédias provocadas pela chuva, como ocorreu no fim de semana, no litoral norte de São Paulo, e do cenário de crise climática, a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) alerta para a necessidade do fortalecimento dos Institutos Públicos de Pesquisa do Estado. Para a entidade, a extinção de órgãos públicos de pesquisa nos últimos anos, como o Instituto Geológico, Instituto Florestal, Instituto de Botânica e a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) compromete a resposta do Estado diante de catástrofes.
“O papel dos Institutos Públicos, como o Geológico, é produzir conhecimento e gerar informações que possam, de maneira preventiva, ajudar a proteger a sociedade deste tipo de desastre, além de atuar diretamente nos locais já afetados”, diz Helena Dutra Lutgens, vice-presidente da APqC, em nota à imprensa.
Segundo a entidade, o último concurso realizado pelo Estado para contratar pesquisadores na área geológica foi em 2003.
“Além da falta de pessoal, com a extinção do Instituto Geológico, em 2020, o que restou da estrutura foi transferido para um novo órgão e hoje os pesquisadores não têm autonomia para realizar o trabalho, não têm carros e há burocracia para ter acesso a diárias de viagens. Ainda assim, neste momento, três equipes estão no litoral, duas em São Sebastião e uma em Caraguatatuba, atuando para dar suporte às comunidades atingidas”, conta.
Segundo a APqC, em 2019, o Instituto Geológico realizou um curso para agentes públicos e para a população do litoral paulista. Em 2020, entregou um mapeamento da região metropolitana, incluindo 38 municípios, exceto São Paulo. Nesse mesmo projeto, os pesquisadores concluíram o mapeamento de risco da Rodovia Rio-Santos (SP 055), desde Bertioga até Ubatuba.
“Em um momento de crise climática, o Estado de São Paulo escolheu, nos últimos anos, caminhar na direção contrária às reais necessidades, extinguindo institutos e concedendo áreas de conservação à iniciativa privada. O preço que se paga por este modelo de governo é a desgraça, é o sofrimento da população, são as mortes, como estamos vendo no litoral. É preciso repensar este modelo e investir nos Institutos de Pesquisa que fornecem prontas respostas a sociedade”, defende.
A associação reforça ainda que as mudanças climáticas exigem uma atualização constante dos mapeamentos de áreas de risco.
“O Estado está sob um novo governo e, nas últimas semanas, nos reunimos com os secretários das áreas de meio ambiente, agricultura e saúde mostrando a importância dos Institutos públicos de pesquisa para a sociedade paulista e a situação crítica em que se encontram. O momento dramático de crise climática, crise hídrica e crise sanitária exige uma postura diferente da que os governos anteriores assumiram. O governador Tarcísio de Freitas tem a oportunidade de adotar um modelo diferente e investir no fortalecimento dos Institutos públicos de pesquisa e consequentemente fortalecer o sistema de ciência e tecnologia de São Paulo, para ser melhor instrumentalizado para esse momento crítico”, finaliza Lutgens.