Bloqueios perdem força no terceiro dia
Os bloqueios ilegais em rodovias do país – montados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) para contestar o resultado das eleições, que deram vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – entraram nesta quarta-feira (02/11) em seu terceiro dia, mas com menor força.
Segundo o último balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o país registra 150 pontos de bloqueio e interdição em estradas de 15 estados. No início da manhã, eram 167 pontos em 17 estados.
As interrupções e bloqueios ainda atingem rodovias do Acre, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Paraná, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.
Os estados com mais bloqueios são Santa Catarina, com 36, Mato Grosso, com 30, e Pará, com 17, informou a PRF no boletim divulgado no final da manhã (horário de Brasília).
A corporação disse ainda que, desde segunda-feira, 631 manifestações foram desfeitas em estradas do país. Ao todo, a PRF realizou ao menos 1.992 autuações referentes à obstrução das rodovias federais.
Também nesta quarta-feira, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que 912 multas já foram aplicadas contra manifestantes que bloqueiam as rodovias, somando um valor de mais de R$ 5,5 milhões. Os valores das multas variam de R$ 5 mil a R$ 17 mil, conforme o tipo de infração.
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, é penalizado com infração gravíssima o condutor que utiliza veículos para, deliberadamente, interromper, restringir ou perturbar a circulação na via sem autorização de entidade de trânsito. A multa mais cara, de R$ 17 mil, é aplicada a quem for identificado como organizador dos bloqueios.
O ministro da Justiça, Anderson Torres, mencionou o bloqueio nas rodovias em mensagem no Twitter nesta quarta-feira, afirmando que a PRF continua com sua ação para desinterditar as vias. Ele ainda disse reiterar “o pedido do presidente Jair Bolsonaro para que as manifestações não impeçam o direito de ir e vir de todos”.
Torres se referia ao curto pronunciamento de Bolsonaro na terça-feira no Palácio da Alvorada, depois de ter evitado se manifestar sobre sua derrota por quase 48 horas.
Em uma fala de pouco mais de dois minutos repleta de ambiguidades, o presidente desautorizou os métodos usados nos bloqueios em rodovias, mas disse que “manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas”, deixando uma brecha para novos protestos.
“Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”, disse.
Bloqueios de cunho golpista
Após a derrota de Bolsonaro na eleição presidencial, bolsonaristas passaram a bloquear estradas em vários estados para contestar o resultado. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o auge dos protestos de cunho golpista ocorreu na segunda-feira, quando foram registrados 421 pontos de interdição em quase todos os estados do país e no Distrito Federal.
Com a PRF sendo acusada de inação em relação aos bloqueios, as estradas começaram a ser liberadas depois da intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na terça-feira, o ministro Alexandre de Moraes determinou que as polícias militares dos estados “possuem plenas atribuições constitucionais e legais” para atuar na desobstrução “ilegal” de rodovias bloqueadas, inclusive as federais, bem como identificar, multar e prender os responsáveis pelos bloqueios.
Após a decisão, governadores e as polícias militares estaduais passaram a agir na liberação das vias. Em alguns casos, houve confrontos entre agentes e manifestantes. No Rio Grande do Sul, a PM chegou a usar bomba de gás lacrimogêneo para dispersar o movimento, e no Rio Grande do Norte, policiais usaram spray de pimenta.
Logo após o início dos protestos na segunda-feira, líderes da greve dos caminhoneiros de 2018 e entidades da categoria se distanciaram da ação e pediram o fim dos bloqueios.
Em nota, o deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS), que representa os caminhoneiros no Congresso, afirmou não existir uma manifestação organizada e ressaltou que a categoria reconhece a vitória de Lula.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Carlos Alberto Litti, classificou a manifestação de antidemocrática e destacou que os atuais bloqueios não defendem os interesses da categoria.
Outros setores também se manifestaram. Em nota na terça, associações que representam policiais rodoviários federais disseram que o longo silêncio de Bolsonaro após a derrota contribuiu para estimular seus apoiadores a bloquearem estradas.
ek/lf (Agência Brasil, ots)