Cientistas encontram indícios de vida em Vênus
Uma equipe internacional de astrônomos identificou a presença de um gás na atmosfera de Vênus que se tornou um dos indícios científicos de vida fora da Terra mais importantes já descobertos.
A detecção da fosfina – um gás existente na Terra – nas nuvens espessas de Vênus foi anunciada em um estudo publicado nesta segunda-feira (14/09) na revista científica Nature Astronomy.
A descoberta é um forte indício de que micróbios podem habitar ou ter habitado o planeta vizinho. Na Terra, a fosfina é produzida por bactérias que vivem em ambientes carentes de oxigênio.
O time, que reúne pesquisadores do Reino Unido, Estados Unidos e Japão, identificou traços do gás pela primeira vez com o telescópio James Clerk Maxwell, no Havaí, e os confirmou por meio do radiotelescópio Alma, o maior do tipo no mundo, localizado no Chile.
“Fiquei muito surpresa – atordoada, na verdade”, contou a astrônoma Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, autora principal do estudo.
Há muito tempo a existência de vida extraterrestre é uma das questões primordiais da ciência. Astrônomos usam sondas e telescópios para buscar “bioassinaturas” – sinais indiretos de vida – em outros planetas e luas do Sistema Solar e além dele.
“Com o que sabemos atualmente sobre Vênus, a explicação mais plausível para a [presença de] fosfina, por mais fantástica que possa parecer, é vida”, disse a astroquímica portuguesa Clara Sousa-Silva, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA.
“Isso é importante porque, se for fosfina e se existir vida, significa que nós não estamos sozinhos. Também significa que a vida em si deve ser algo muito comum, podendo haver muitos outros planetas habitados em toda nossa galáxia”, acrescentou.
Contudo, os pesquisadores destacaram que, apesar de tentadora, a detecção de fosfina está longe de ser prova de que existe vida fora da Terra. “Enfatizo que vida, como explicação para nossa descoberta, deve ser, como sempre, a última possibilidade”, afirmou Sousa-Silva.
A fosfina – formada por um átomo de fósforo e três átomos de hidrogênio – é altamente tóxica para seres humanos. O gás foi visto em 20 partes por bilhão na atmosfera de Vênus, uma concentração considerada residual.
Os cientistas analisaram potenciais fontes não biológicas para a presença do gás em Vênus, como vulcanismo, meteoritos e vários tipos de reações químicas, mas nenhuma possibilidade pareceu viável. A pesquisa continua, visando confirmar a presença de vida no planeta ou encontrar uma explicação alternativa.
Vênus é o planeta mais próximo da Terra e o segundo mais próximo do Sol, depois de Mercúrio – a Terra é o terceiro. Sua estrutura é semelhante à da Terra, mas seu tamanho é levemente menor. O planeta está envolto em uma atmosfera espessa e tóxica que retém calor. As temperaturas de sua superfície chegam a escaldantes 471 ºC, suficientes para derreter chumbo.
“Nenhuma vida seria capaz de sobreviver na superfície de Vênus, porque ela é completamente inóspita, mesmo para bioquímicos completamente diferentes dos nossos”, afirmou Sousa-Silva. “Mas há muito tempo, Vênus pode ter tido vida em sua superfície, antes de um efeito estufa descontrolado deixar a maior parte do planeta completamente inabitável.”
Mas para alguns cientistas, ainda existe a possibilidade de haver vida nas altas nuvens venusianas, com temperaturas amenas em torno de 30 ºC, que poderiam abrigar micróbios aéreos. “Se forem microrganismos, eles teriam acesso a luz solar e água, e talvez vivam em gotículas líquidas para impedir que se desidratem”, sugeriu Greaves.
Esses micróbios teriam que ter “algum mecanismo de proteção contra corrosão por ácido”, disse a astrônoma, já que as nuvens de Vênus são formadas por cerca de 90% de ácido sulfúrico – uma acidez à qual os micróbios terrestres não sobrevivem.
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