Haiti diz ter preso mentor do atentado ao presidente
As autoridades do Haiti anunciaram neste domingo (11/07) a detenção do médico Emmanuel Sanon, que seria um dos autores intelectuais do assassinato do presidente Jovenel Moïse.
Segundo a polícia, o haitiano Sanon, de 60 anos e que vive na Flórida, planejou o assassinato para que pudesse se tornar presidente.
“Quando o avanço dos bandidos foi bloqueado, a primeira pessoa param quem ligaram foi Emmanuel Sanon”, declarou o diretor-geral da Polícia Nacional haitiana, Léon Charles, em entrevista coletiva.
A polícia também investiga outros dois supostos autores intelectuais do assassinato, que estiveram em contato com Sanon, mas não revelou suas identidades.
Um vídeo no Youtube gravado em 2011, intitulado “Dr. Christian Sanon – Liderança para o Haiti”, parece apresentar Sanon como um líder potencial do país. Nele, o médico denuncia os líderes haitianos como corruptos.
Na última quarta-feira (07/07), o presidente Jovenel Moïse foi assassinado em sua residência, num atentado que ameaçou submergir a já volátil política haitiana em caos.
O suposto complô
Segundo as investigações, Sanon entrou em contato com uma empresa venezuelana de segurança com base nos Estados Unidos para recrutar dois membros do comando que supostamente cometeu o assassinato.
As investigações apontam que Sanon chegou ao Haiti em um voo privado no início de junho, acompanhado de alguns mercenários colombianos. Eles teriam sido contratados para garantir a segurança pessoal de Sanon e de seu negócio.
Posteriormente, “a missão mudou” e foi apresentada a um dos colombianos uma ordem de prisão contra o presidente da República: “A operação foi montada a partir daí”, disse o chefe da polícia.
Entre outros detalhes da investigação sobre Sanon, o representante da polícia disse que no domicílio do detido foi encontrado um quepe com a sigla “DEA” (agência antidrogas dos EUA).
Sanon é o terceiro haitiano a ser detido pelo caso. No total, 18 colombianos foram pressos acusados de fazer parte do comando que invadiu a residência de Jovenel Moïse na quarta-feira passada.
Outros cinco colombianos estão foragidos e três morreram em trocas de tiros com a polícia ocorridas até a última quinta-feira em diferentes pontos de Porto Príncipe.
Pedido de ajuda externa
As autoridades do Haiti solicitaram na sexta-feira (09/07) aos Estados Unidos o envio de tropas ao país para a proteção de locais de infraestrutura estratégica, como portos, aeroportos e prédios públicos.
Não está claro de quem exatamente partiu o pedido, que foi confirmado pelos EUA. Na sexta-feira, o Senado nomeou seu próprio líder, Joseph Lambert, como presidente interino do país
O gesto desafiou a autoridade do primeiro-ministro interino, Claude Joseph, que está no poder com o apoio da ONU e dos Estados Unidos desde o assassinato de Moïse.
Os EUA, que têm histórico de intervenção no Haiti, não deram sinais ainda que enviarão militares ao país. O governo americano já havia destacado agentes do FBI (polícia federal) e outros departamento para Porto Príncipe.
Crise constante
O Haiti tem uma longa história de ditaduras e golpes de Estado, e a democracia nunca se estabilizou completamente.
O país vive uma forte crise política desde meados de 2018 e enfrentou seu momento mais grave no último dia 7 de fevereiro, data em que Moïse denunciou que a oposição, com o apoio de juízes, tramava um golpe contra ele.
Ao mesmo tempo, o Haiti atravessa uma profunda crise de segurança, agravada desde o início de junho pelas lutas territoriais entre organizações criminosas que disputam controle dos bairros mais pobres de Porto Príncipe.
Depois de ter “soldados da paz” destacados no Haiti durante anos, a ONU apenas possui atualmente no país mais pobre da América uma missão de apoio político, encarregada de “aconselhar” e “apoiar” o governo haitiano nos seus esforços para reforçar a estabilidade política e a boa governança.
Por Deutsche Welle
rpr (AFP, Efe, AP)