Opinião

“Novo normal” da educação será o modelo híbrido?

Barbara Roma
Por Barbara Roma

O ano atípico devido à pandemia afetou além da saúde, a economia, as empresas, vários outros setores da sociedade e aspectos da vida humana, mas em especial a educação.

Para esta área, a situação provocou impactos significativos, principalmente por causa do início forçado das aulas remotas. No começo da quarentena no Brasil, quando as aulas presenciais foram canceladas, muitas dúvidas surgiram. Agora, passado quase um ano e com a discussão sobre a abertura das escolas, será que estamos preparados para voltar ao “normal”?

Será que os alunos que antes passavam uma média de seis horas dentro de uma sala, enfileirados em carteiras, olhando para uma lousa e assistindo ao professor, estão preparados para retornarem a esta mesma rotina?

Na cidade de São Paulo, as escolas já têm data para retomarem suas atividades presenciais, mas de uma nova maneira: serão até duas aulas por semana e poderão receber 35% da capacidade de pessoas (entre alunos, professores e funcionários). Em contrapartida, quatorze cidades da Grande São Paulo decidiram postergar a retomada. Globalmente, mais de um bilhão de crianças estão fora das escolas.

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Claro que tudo isso acelerou um debate muito grande! O modelo tradicional da educação básica no Brasil foi adotado há mais de 200 anos e vem sendo questionado por estudiosos e especialistas na área já há algum tempo. Muita gente fala no fim total das aulas presenciais como uma tendência natural, outras defendem o modelo.

O artigo “Impactos da Covid-19 na educação”, da Comissão Europeia, aponta que, ter a oportunidade de interagir com colegas e professores é importante para o desenvolvimento da autoestima, autoconfiança e do senso de identidade das crianças. Além disso, há evidências significativas de que as habilidades sociais estão positivamente relacionadas com as habilidades cognitivas e com o desempenho escolar. 

Contudo, outros importantes estudos também sugerem que o aprendizado online aumenta a retenção de informações e que este modelo requer cerca de 50%  menos tempo para aprender em relação ao modelo tradicional. Isso porque os alunos conseguem respeitar seus próprios ritmos. Devemos considerar ainda que já estamos lidando com a geração Alpha. Os nascidos a partir de 2010, já chegaram ao mundo inseridos em um ambiente com muito mais estímulos sensoriais, telas sensíveis ao toque, comandos de voz e brinquedos criados a partir de estudos para desenvolver habilidades motoras e intelectuais.

Mesmo antes da COVID-19, já havia alto crescimento e adoção em tecnologia de educação. Alguns estudos mostram que o e-learning vem se reforçando como uma tendência. Segundo dados de pesquisa de mercado divulgados pelo portal techjury.net, nos Estados Unidos, até o início do segundo semestre de 2020, 63% dos alunos do ensino médio já usavam ferramentas de aprendizagem virtual. 

Além disso, o e-learning corporativo tem se mostrado muito efetivo. A mesma pesquisa concluiu que, neste modelo, um curso tende a ser concluído de 40% a 60% mais rápido que no modelo tradicional. Por isso, grandes empresas já estão investindo nessa tendência. A IBM, por exemplo, economizou aproximadamente 200 milhões de dólares depois de implementar o aprendizado online.

Por isso, vemos que realmente o modelo híbrido (com parte presencial e parte online) veio para ficar. Mas, o que muitas pessoas ainda não se atentaram e que precisamos começar a delinear o quanto antes é a metodologia online. Não basta simplesmente abrir uma conferência no computador e dar uma matéria como se estivesse em uma sala de aula. É preciso que as escolas comecem a pensar em conteúdos mais atraentes para que as diferentes gerações de alunos consigam absorver este material. 

Além disso, é por meio da produção destes conteúdos atraentes, utilizando as ferramentas de empresas especializadas, que iremos realmente valorizar os professores. Eles se tornarão os especialistas que analisam, e não apenas expõe, os temas abordados nesses conteúdos. Ao contrário de hoje, em que temos profissionais da educação esgotados porque tiveram de lidar sozinhos com esta nova situação de uso da tecnologia e interrupção das aulas presenciais. 

Nos últimos tempos, surgiram muitas iniciativas com o intuito de resolver ou melhorar a questão do ensino online. Em Los Angeles, por exemplo, a emissora de televisão PBS SoCal e o Los Angeles Unified School District, firmaram uma parceria para oferecer transmissões educacionais locais, com canais separados, focados em diferentes faixas etárias.

É preciso desenvolver projetos que considerem o aluno como um sujeito social, com importantes necessidades de interação e inclusão, mas que respeite as características de toda uma geração. Temos hoje tecnologia suficiente para isso. 

A realidade aumentada e a virtual, por exemplo, são ferramentas que tornam possível uma interação à distância, podendo criar uma oportunidade para que os professores envolvam seus alunos em experiências imersivas,  tornando o processo de aprendizagem à distância mais prático, atraente e eficaz. 

Esse sim é o modelo híbrido que as escolas devem apostar!

Barbara Roma, Mestre em História pela Universidade de São Paulo, ex-professora do Ensino Médio da rede privada e sócia fundadora da Agência ICB

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