Brasil

Pressionado, presidente da Petrobras renuncia

O presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, anunciou nesta segunda-feira (20/06) sua renúncia do cargo, em meio à crescente pressão do presidente Jair Bolsonaro e do presidente da Câmara, Arthur Lira, contra a política de preços de combustíveis praticada pela estatal.

Na sexta-feira, a Petrobras havia anunciado um reajuste de 14,26% no preço do diesel e de 5,18% no preço da gasolina vendidos para as distribuidoras, que entrou em vigor no sábado. A estatal justificou o aumento com base em sua política de preços, que acompanha a flutuação do mercado internacional.

A empresa passará a ser comandada interinamente pelo diretor executivo de Exploração e Produção da companhia, Fernando Borges. A informação foi divulgada em um comunicado da Petrobras protocolado junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

José Mauro Coelho, sentado, em estúdio de TV, veste terno e gravata, está com paletó aberto, faz gesto com a duas mãos enquanto fala.
José Mauro Coelho, ex-presidente da Petrobras (Arquivo/Valter Campanato/Agência Brasil)

Borges é funcionário de carreira da empresa, onde trabalha há quase 40 anos. Ele atuou como diretor do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) de 2016 a 2020, e foi indicado pela Petrobras para o cargo de diretor da Associação Brasileira de Empresas de Exploração e Produção de Petróleo e Gás (ABEP), na qual atua desde 2016.

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Bolsonaro pediu CPI da Petrobras

Após o anúncio do reajuste, Bolsonaro defendeu a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras, seus diretores e conselheiros, algo que ganhou o apoio de Lira e também de legendas da oposição. Líderes da Câmara discutem nesta segunda-feira o pedido de abertura da CPI.

“Conversei ontem com o líder da Câmara [deputado Ricardo Barros] para a gente abrir uma CPI segunda-feira. Vamos para dentro da Petrobras. É inadmissível, com uma crise mundial, a Petrobras se gabar dos lucros que tem”, afirmou Bolsonaro no sábado.

Na sexta-feira, após a reação do governo, a Petrobras perdeu R$ 27,3 bilhões em valor de mercado. No dia seguinte, Bolsonaro afirmou que o valor da empresa iria “perder outros 30 [bilhões]” nesta segunda feira, com a abertura da CPI.

Alinhado ao presidente, Lira defendeu na sexta-feira a renúncia de Coelho e o acusou de trabalhar “sistematicamente contra o povo brasileiro na pior crise do país”.

Trocas de comando no atual governo

Há cerca de um mês, em 23 de maio, o Ministério de Minas e Energia já havia divulgado uma nota informando que o governo federal havia decidido demitir Mauro Coelho, apenas 40 dias após ele ter sido nomeado para o cargo, mas a mudança ainda não havia sido efetivada pelo Conselho de Administração da estatal.

Em maio, o governo indicou para comandar a Petrobras Caio Mário Paes de Andrade, atual secretário especial de Desburocratização do Ministério da Economia, cujo nome ainda não foi avaliado pelo Conselho de Administração.

Coelho foi o terceiro presidente da estatal durante o governo Bolsonaro, e sucedeu Roberto Castelo Branco e o general da reserva do Exército, Joaquim Silva e Luna, que também caíram após pressões contra a política de preços da empresa.

Política de preços em debate

A Petrobras usa o Preço de Paridade de Importação (PPI) para definir o valor que cobrará dos distribuidores. Ele considera o preço dos combustíveis praticado no mercado internacional, os custos logísticos de trazê-los ao Brasil e uma margem para remunerar os riscos da operação. Como o preço no mercado internacional é em dólar, a cotação da moeda também influencia o cálculo.

Essa fórmula foi adotada no governo Michel Temer. Nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, a definição do preço considerava a variação do petróleo no mercado internacional, mas também os custos de produção de petróleo no Brasil. Dessa forma, a estatal segurava impactos de oscilações dos preços no mercado internacional para o consumidor interno.

Dependendo da diferença dos preços, porém, em alguns momentos essa política fazia a Petrobras lucrar menos do que poderia ou ter prejuízo por vender, no mercado interno, combustíveis por um valor abaixo do que ela havia pagado para importar, o que era desvantajoso para os acionistas.

Apesar da pressão constante contra a estatal, Bolsonaro não usou até o momento o poder do governo, como acionista majoritário da empresa, para efetivamente alterar a política de preços.

O tema é um dos principais da pré-campanha eleitoral ao Palácio do Planalto neste ano, devido ao impacto que tem no bolso dos eleitores e na inflação. Lula, pré-candidato do PT à Presidência, vem prometendo “abrasileirar” o preço dos combustíveis se for eleito.

bl/lf (ots)

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