São Paulo

São Paulo pode ficar até 6ºC mais quente em 2050, aponta estudo

Ondas de calor no interior do Estado podem superar 150 dias

Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Geológico, órgão extinto pelo Governo paulista em 2020, e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) projeta um aumento de até 6ºC na temperatura em parte do Estado até 2050. Segundo o documento, divulgado pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), os cientistas consideraram dois cenários, com projeções elaboradas a partir de quatro modelos climáticos e nove variáveis de temperatura do ar e chuva para calcular o desvio, que será a diferença de temperatura do ar e da chuva em relação à média histórica. A projeção para o período entre 2020 e 2050 se baseia em um comparativo com dados coletados entre 1961 a 1990, levando em consideração os maiores e os menores valores dos desvios. 

Ondas de calor no interior do Estado podem superar 150 dias (Reprodução)

A conclusão é de que haverá “aquecimento da atmosfera, que tende a ser menos intenso na fachada litorânea, devido ao controle exercido pelo oceano, e maior no trecho noroeste do estado, mais distante do Atlântico”, resumem os autores do estudo. 

Quando consideraram a temperatura máxima anual, os pesquisadores identificaram que haverá aumento em todo Estado, com menor aquecimento, entre 0,5 e 1,5ºC, no litoral norte e Baixada Santista. Em outras regiões, as máximas podem avançar a partir de 3ºC a 4ºC, podendo chegar aos 6ºC na faixa central do Estado.  

Em um dos cenários, “o Estado praticamente inteiro apresenta redução de ondas de frio entre 1 e 3 dias, com pequenos trechos isolados onde essa redução é de até um dia”, relatam. 

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Já as ondas de calor, podem ser ainda mais extensas, superando 150 dias no norte paulista, região de Ribeirão Preto, em um cenário mais pessimista, e 25 dias no sul do Estado. 

“Este estudo foi encomendado pelo próprio Estado, e é um documento importantíssimo para lembrar que a emergência climática é real e pode trazer consequências devastadoras para o planeta, e também para o Estado mais rico do Brasil, que pode ter sua economia fortemente atingida se as projeções se confirmarem”, comenta Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC. “Apesar dos dados, o Estado não parece estar atento ao que a ciência alerta, porque tem adotado, nos últimos anos, medidas que fragilizam o sistema paulista de ciência e tecnologia, como a extinção do próprio Instituto Geológico, autor do estudo, do Instituto Florestal e do Instituto de Botânica, além da Sucen, que também poderia contribuir diante deste cenário estudando a mudança de comportamento de vírus e de vetores”. 

Chuvas 

O estudo também observou chances de eventos extremos, alternando entre clima seco e chuva forte, podendo causar escorregamentos de encostas, inundações e erosões. Este cenário aparece, principalmente, no litoral sul e norte. 

O documento, que levou cerca de quatro anos para ficar pronto, também menciona que as conclusões foram incorporadas ao Zoneamento Ecológico-econômico (ZEE) do Estado de São Paulo, e que novos estudos estão em andamento para aprimorar os resultados.  

Em um dos modelos, é possível apontar chance de uma redução na precipitação anual, com destaque para as regiões de Ribeirão Preto (norte) e São José do Rio Preto (noroeste).   

“Entre as diferentes tendências, a redução na precipitação é o pior cenário a ser enfrentado, dado o caráter essencial à vida que a água se reveste”, pontua o documento, chamando a atenção também para o risco de maiores precipitações, que podem deflagrar desastres. 

Ao longo de décadas, a exploração econômica em São Paulo, assim como no Brasil, segundo a publicação, ocorreu “em detrimento das condições geoecológicas”. 

“Dos estados brasileiros, São Paulo é aquele com maior grau de ocupação de seu território, maior contingente populacional e maior desenvolvimento econômico, diretamente associado ao desempenho de sua agricultura, indústria e serviços. Justamente por esses motivos é o trecho do território brasileiro com o maior grau de modificação dos espaços naturais”, afirma outro trecho do estudo, que aponta apenas 22,9% da vegetação florestal nativa estão preservadas. 

“O estado de São Paulo só não está em uma condição ainda mais grave porque ao longo do último século, pesquisadores dos Institutos, como o Florestal, também extinto em 2020 pelo Governo João Doria, atuaram para mapear e proteger os biomas nativos”, afirma Lutgens. 

A APqC cobra do Estado um plano de ação para conter o avanço do aquecimento em São Paulo, medidas efetivas para preservar as áreas de conservação e a recriação dos Institutos Geológico, Florestal e Botânica, além da Sucen. 

“É urgente fortalecer o sistema paulista de pesquisa e tecnologia, e isso exige investimentos financeiros e em recursos humanos. Enquanto isso, hoje, ignorando os alertas da ciência, o governo Tarcísio de Freitas tenta entregar as áreas de conservação para a iniciativa privada, uma afronta ao futuro dos paulistas”, critica Lutgens. 

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