Moradores denunciam violência policial em Guarujá após morte de soldado da Rota
A morte de um policial militar da Rota, a tropa de elite da PM paulista, na última quinta-feira (27/07), em Guarujá, no litoral de São Paulo, desencadeou uma série de ataques contra moradores de favelas da cidade nos últimos dois dias. Segundo relatos de moradores, que pediram anonimato por medo de represálias, a polícia vem invadindo as casas, agredindo as pessoas e matando quem tem antecedentes criminais ou tatuagens.
De acordo com a Ouvidoria das Polícias, ao menos dez pessoas foram mortas em decorrência de intervenção policial na Operação Escudo, deflagrada pela Secretaria de Segurança Pública após o assassinato do soldado da Rota Patrick Bastos Reis, de 30 anos. Ele foi baleado durante um patrulhamento na comunidade da Vila Zilda. Outro policial que o acompanhava, o cabo Fabiano Oliveira Marin Alfaya, foi ferido na mão e está fora de perigo.
A Ouvidoria informou que está investigando as denúncias de tortura e ameaças de morte relatadas por moradores. Já os moradores das comunidades usam os dados dos próprios policiais em redes sociais, que se vangloriam de 14 mortes, e a elas se somam duas ocorridas na manhã desta segunda-feira.
“Eles dizem que matarão 30 onde meu primo foi morto e 30 onde o policial foi morto. De dia é perigoso, mas de noite, ainda mais, já que eles estão contando e comemorando os corpos; qualquer pessoa com antecedentes ou tatuagem, eles parecem ter ordem de matar”, afirma um morador cujo primo foi morto no fim de semana.
Outra moradora, que trabalha com serviço de entrega de refeições, diz viver sob tensão pelos filhos e os profissionais que fazem os transportes. “Eles não devem nada para as autoridades, mas sabemos como eles tratam motoqueiros, então fico muito preocupada”, diz.
Governo: “Não houve excesso”
A Operação Escudo conta com um efetivo de mais de 600 policiais, entre militares e civis, segundo o governo do Estado. Nesta segunda-feira, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) falou à imprensa ao lado do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), e elogiou a operação que resultou em dez pessoas detidas.
“Não houve hostilidade, não houve excesso; houve uma atuação profissional e que nós manteremos”, afirmou o governador, afirmando que “apenas pessoas que atacaram policiais foram mortas”. “Nós não vamos deixar passar impune uma agressão contra um policial. Não é possível que o crime possa agredir um policial e sair sem punição.”
O Instituto Sou da Paz lamentou a morte do soldado Reis, criticou que a resposta tenha sido dada com mais mortes e relembrou a ameaça de Freitas em campanha ao governo estadual de encerrar o programa de câmeras corporais, que resultou na queda da letalidade policial no Estado em quase 63%, passando de 697 mortes em 2019 para 260 em 2022.
“Essa atitude, aliada aos poucos compromissos públicos sobre a importância do controle do uso da força, também ajuda a explicar o crescimento de 28% nas mortes cometidas por policiais em serviço no estado de São Paulo no primeiro semestre de 2023”, afirmou o instituto.
“Os eventos em Guarujá não podem ser lidos como um caso isolado e remetem a outros ciclos de violência após a morte de um policial. Ainda mais preocupante, esses eventos se inserem em um contexto de fragilização do controle externo da atividade policial e de retrocessos na política de segurança pública do estado”, completou.