Aluna de 10 anos é vítima de racismo em escola estadual
Por Renan Omura, especial para Ponte
‘Sua mãe é uma macaca’, disseram quatro alunos para garota de 10 anos, que não quer voltar à escola; mãe da vítima afirma que escola se omitiu
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“Cabelo de vassoura”, “sua mãe é uma macaca”, “você parece um mico leão dourado”. Esses foram alguns dos insultos que Kemily Rayssa dos Santos, 10 anos, sofreu dentro da Escola Estadual Euclides Igesca, localizada no Distrito de Palmeiras, em Suzano, Grande São Paulo. As ofensas foram proferidas por quatro alunos da mesma sala.
Kemily está no 5° ano do ensino fundamental e não frequenta as aulas há mais de um mês. Ela tem medo de voltar a sofrer os insultos. A garota, que sempre foi alegre, está deprimida. Os três meninos e uma menina que praticaram as ofensas racistas continuam indo normalmente à escola.
A costureira Daiane Faustino dos Santos, mãe de Kemily, notou mudanças no comportamento da filha desde o mês de agosto. Além de desanimada, a garota passou a querer prender o cabelo e fazer alisamento.
Após conversar com a filha no dia 18 de setembro, ela descobriu que a criança estava sendo vítima de racismo por ser negra e por conta dos cabelos cacheados.
Daiane conta que a direção da escola tinha ciência dos fatos, pois a criança havia procurado ajuda da vice-diretora no dia 9 de setembro. Mesmo assim, nenhuma providência foi tomada.
“Se eu não tivesse percebido as mudanças de comportamento da minha filha, ela ainda estaria sofrendo bullying”, relata a mãe.
Após Daiane entrar em contato com a coordenadora da escola, a direção decidiu marcar uma reunião na semana seguinte com os pais dos alunos, mas o encontro não ocorreu.
“Depois de uma semana eu fui lá perguntar sobre a reunião e o diretor nem lembrava do combinado. Ele fez pouco caso do sofrimento da minha filha”, conta Daiane.
Revoltada, a mãe da garota registrou um boletim de ocorrência por injúria no dia 29 de outubro. No mesmo dia, foi realizada um protesto em repúdio ao racismo em frente à Escola Estadual Euclides Igesca. O ato pacífico contou com familiares, amigos da vítima e vizinhos.
A mãe da vítima também afirmou que gostaria de um posicionamento da direção escola, que, na visão dela, se omitiu. “Os alunos que zombaram da minha filha continuam frequentando normalmente as aulas. Depois de tudo que fizeram, eles nem foram suspensos e continuam na mesma sala”, conta.
Kemily tentou ir algumas vezes à escola acompanhada da mãe, porém o local é um gatilho para crises de pânico. Daiane pensou em mudar a filha de colégio, o que ela considera injusto, já que a garota foi vítima e ainda terá que se adaptar a um novo ambiente. “Eu vou lutar pelos direitos da minha filha. Ela não fez nada de errado”, afirma.
Na semana seguinte ao protesto, foi realizada uma reunião com os pais dos alunos, a direção da escola e um supervisor da Diretoria Regional de Ensino. No encontro, Daiane sugeriu que a escola enviasse apostilas e conteúdos para que a filha pudesse estudar em casa até que a situação se resolvesse. No entanto, até o momento, nada foi feito.
Segundo Daiane, a Diretoria Regional disponibilizou um psicólogo para fazer atendimentos dentro da escola, mas a estratégia não está funcionando, já que a maior dificuldade da filha é ir até o local.
Daiane lamenta a ausência de auxílio. “A minha família inteira está precisando de atendimentos psicológicos. Isso nos afetou muito. O único apoio que estamos recebendo é da comunidade”, relata a mãe da vítima.
Essa não é a primeira vez que a família enfrenta o preconceito na escola Euclides Igesca. Kathelyn dos Santos Faustino, 17 anos, irmã mais velha da Kemily, também foi vítima de racismo há dois anos.
Segundo Daiane, a filha mais velha foi insultada por uma professora dentro da sala de aula com a frase: “ei, você aí, neguinha do cabelo sarará”. A mãe só não levou o caso adiante, porque após fazer a queixa, a professora se afastou das salas de aula.
Vizinhos da família também relatam casos de bullying dentro da escola contra crianças autistas. “Eu exijo que troquem a direção da escola. É impossível confiar nesse diretor omisso”, afirma Daiane.
A Ponte foi até a Escola Estadual Euclides Igesca, porém o diretor disse que não está autorizado pela Diretoria Regional de Ensino a dar entrevistas para a imprensa.
Outro lado
Em nota, a Diretoria Regional de Ensino de Suzano afirma que “repudia todo e qualquer ato de discriminação dentro e fora do ambiente escolar e informa que tem acompanhado o caso em questão juntamente com a direção da Escola Estadual Euclides Igesca”. O órgão reforça que continua trabalhando na resolução de conflitos com foco na conscientização, respeito ao próximo e cultura de paz. “A responsável e a aluna têm sido acolhidas e a equipe gestora da unidade permanece à disposição”, conclui a nota.
*Esta reportagem foi publicada originalmente neste link https://ponte.org/menina-de-10-anos-e-vitima-de-racismo-em-escola-da-rede-estadual-de-suzano-sp/