Contra o preconceito, jovens lançam nesta sexta filmes sobre Candomblé e Umbanda
Cinco oficinas de audiovisual e jovens envolvidos com o processo de criação. Assim nasceram uma publicação e dois curtas metragens que vão ser lançados nesta sexta-feira (3), em São Paulo, e que trazem à tona a temática das religiões de matrizes africanas.
O projeto, encabeçado pelos diretores Marcelo Morais e Monique Lupi, reúne narrativas sobre o Candomblé e a Umbanda, duas religiões que, segundo o censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2010, têm mais de meio milhão de seguidores no Brasil.
“O Candomblé é uma tradição baseada na oralidade dos mais velhos, que detém o saber”, comenta Marcelo Morais, do Coletivo Patacori Audiovisual. “Nele, as tradições são passadas através das gerações e como não conseguimos parar o ciclo natural da vida, corremos o risco de não documentar todo o seu conhecimento quando eles morrem”.
A história das religiões de origem africanas no Brasil remonta à colonização e, ao longo dos séculos, elas foram perseguidas e vítimas de discriminação. Marcelo destaca que o projeto tem a missão de ajudar a combater o preconceito que ainda hoje existe contra o Candomblé e a Umbanda.
Essas duas religiões figuram entre as mais perseguidas no país. Dados do disque 100, canal de denúncia do Governo Federal, mostram que os casos de intolerância religiosa registraram aumento entre 2011 e 2016, passando de 15 para 759.
Para Marcelo Morais, essa intolerância está baseada no racismo e no desconhecimento sobre as práticas religiosas. “Só em contato com o diferente que vamos conseguir superar as diversas formas de opressão que estão postas”, diz.
A publicação e os curtas foram produzidos por meio do programa para a Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), da prefeitura de São Paulo. O projeto recebeu um aporte de R$39.980,00, que geraram oficinas culturais com jovens da periferia, nas quais aprenderam técnicas de gravação e edição do material, e a pesquisa de campo, incluindo visitas aos terreiros das duas religiões nos bairros Cidade Tiradentes, Itaquera e Cangaíba, na zona leste da capital.
“Com a expansão da internet e a produção de conteúdos, temos o audiovisual como principal ferramenta de disseminação de ideias e pautas da população negra”, destaca Monique.
Um dos curtas fala da importância da narrativa negra para os jovens e o outro aborda a questão da tecnologia, da oralidade e da tradição nos terreiros, com depoimentos de lideranças religiosas. Já a publicação traz poesias, histórias e contos de autoras como Jô Freitas, Thatá Alves, Anna Raquel, Webert Cruz, Priscila Preta e Marília Casaro. O projeto gráfico é de Luiz Matheus, com produção de Monique Lupi e de Marcelo Morais.
“O direito à narrativa da juventude negra se faz necessário para vocalizar nossa luta para que estejamos vivos, com equidade de raça, classe, gênero e liberdade religiosa”, resume Morais.
Os diretores
Marcelo Morais é formado em gestão pública e focou seus estudos em cultura de massa, juventude negra e periferias. Teve sua atuação profissional iniciada trabalhando em organizações do terceiro setor, inicialmente trabalhando com monitoramento de políticas para as juventudes em nível nacional e em um segundo momento migrando para o setor de educação da organização onde trabalhava com na formulação de instrumentos participativos para uma educação anti racista para escolas públicas visando a construção de espaços democráticos. Atuou no Conselho Nacional de Juventude onde foi responsável pelo monitoramento do Plano Juventude Viva e do Projovem Urbano no Ministério da Educação, além de estar na comissão organizadora da III Conferência Nacional de Juventude.Teve breve passagem pela Prefeitura de São Paulo, onde trabalhou na implementação do Programa Juventude Viva e foi coordenador adjunto do Programa Transcidadania, sendo responsável pela implementação do protocolo de hormonoterapia no município de São Paulo e pela construção dos planos de empregabilidade, educação e assistência social. Foi secretário executivo do Conselho Municipal de Políticas LGBT. No ambiente privado atuou com empresas ligadas a construção de mecanismos avaliativos e construção de áreas de responsabilidade social. Atualmente é sócio proprietário da ZULU Produtora organização que nasce a partir da demanda de inúmeras artistas negras que sentiam carência de ter profissionais negras e negros sensíveis na área de produção executiva e captação de recursos, sendo responsável pelas áreas de planejamento estratégico e mobilização de recursos para projetos culturais.
Monique Lupi é formada em Ciências Sociais, pela Universidade Federal de São Paulo e pesquisadora da temática Política de Drogas e o Estado Penal Brasileira: Traficados, Traficantes, Trancafiados. Trabalhou como professora do Ensino de Sociologia, em escolas estaduais, do Estado de São Paulo, durante 4 anos. Atuou no Plano Juventude Viva, pela Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania do Município de São Paulo, durante 2 anos, onde desenvolveu uma articulação territorial comprometida e em rede, de enfrentamento ao Racismo, na região de Itaquera, Zona Leste de São Paulo. Foi Monitora Sócio-Cultural, na Universidade Federal de São Paulo, campus Zona Leste, participando da luta pela consolidação do Campus, na região de Itaquera. Tem experiência com projetos voltados às comunidades de matriz africana e empoderamento de jovens de terreiros. A partir do contato com a terra, desenvolve perspectivas e registros documentais com a máxima do bem-viver. Os projetos que realiza debruçam-se em trabalhos coletivos que visam, a partir da criação de espaços para trocas e diálogos, produzirem contra-narrativas e processos formativos, especialmente com recortes de raça, gênero e classe, se utilizando dos recursos de audiovisual para apresentá-los para a população. Atua no Coletivo Tereza de Benguela, que pensa a mulher negra, no centro da política brasileira, desde 2015. Nesse tempo, organiza debates, promove espaços de reflexão e organização, na cidade de Guarulhos e na Zona Leste de São Paulo. Entende a arte e a produção cultural enquanto ferramenta para a denúncia e retomada de direitos, direcionando seu foco na ligação entre o audiovisual e a documentação de processos de oralidade.
SERVIÇO
O lançamento dos curtas Patacori conta com coquetel, distribuição de publicação, debate e show da cantora Carú Bonifácio.
Data: 03 de agosto de 2018, as 19h
Onde: Alameda Nothmann, 1.135 – Sta Cecília, São Paulo – Cia da Revista
Gratuito
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