Brasil

Veja a história de três mulheres que foram mães na pandemia

Para muitas pessoas, a pandemia do novo coronavírus trouxe medo, insegurança e ansiedade. Mas, para algumas mulheres, esse período também trouxe o grande desafio de conhecer a maternidade em meio a várias limitações. Neste dia das mães, o site da TV Cultura entrevistou mães de primeira viagem que enfrentam os altos e baixos da maternidade durante a pandemia. 

Gestação

“Eu consegui engravidar em abril de 2020, quando já estávamos na pandemia. Eu não imaginava que teria essa proporção, acho que todo mundo imaginou que em dois meses tudo estaria resolvido, mas foi tomando uma proporção cada vez maior. Descobri um problema de saúde e fiquei indo ao médico para fazer o tratamento, sempre com aquele medo de contrair o vírus. Era assustador, porque a gente via no noticiário a quantidade de pessoas morrendo e a quantidade de mães tendo filhos prematuros”, conta a engenheira civil Cristiane Moraes, moradora de Sete Lagoas (MG), e mãe da pequena Eliza, de 4 meses. 

“Acho que o maior desafio da gestação foi a falta de contato com as pessoas. Quando a gente fica grávida, ficamos muito sensíveis, queremos carinho e estar próximo das pessoas. A barriga foi crescendo e pouca gente acompanhou de perto. Isso para uma mulher pesa muito”, conclui. 

A jornalista Amanda Pina, moradora de São Paulo, e mãe da Aurora, de 3 meses, conta como descobriu a gestação durante a pandemia. “Passei toda a minha gravidez isolada, isso foi muito complicado, muitos amigos nem me viram grávida. Foi um grande desafio, porque por muito tempo só fiquei com meu marido em casa.” 

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“A gente acaba entrando em um romantismo de que a maternidade vai ser um conto de fadas, mas não é. O isolamento bateu em mim de uma forma pesada nesse ano, com a chegada da Aurora. Acabo me sentindo sozinha, mas não porque as pessoas não estão comigo, mas porque é um momento de transição muito difícil para a mulher.”

Puerpério 

O pós-parto, também conhecido como puerpério, compreende muitas alterações fisiológicas e psicológicas para as mulheres. É comum que muitas mães relatem cansaço, solidão e tristeza no período, que não tem um tempo definido de duração e que pode ser intensificado com a pandemia. 

Cristiane conta que o tempo de puerpério foi o mais difícil de sua vida: “ocorre uma queda de hormônios muito brusca e nunca tinha cuidado de uma criança tão efetivamente, em 100% do tempo”. Ela esperava um retorno das pessoas sobre como estava cuidando de sua filha, o que não foi possível por conta do distanciamento social. “Isso faz toda a diferença quando a gente acaba de ter filho, mas não tive esse apoio, porque não recebia visitas, era tudo por foto.”

“As pessoas querem ver a criança quando ela nasce, e a mãe fica meio ali, meio de lado. Tem um um momento que a gente não dá conta… Eu não dei conta de conciliar a maternidade com a responsabilidade de casa e do trabalho. Comecei a ter crises de ansiedade e fui diagnosticada com depressão pós parto. Hoje faço tratamento psicológico, mas eu sei que grande parte disso é devido à pandemia, por eu não ter contato com as pessoas, por não poder recebê-las em casa e nem receber ajuda.”

Amanda também relata o que chamou de “solidão materna”: “Quando uma mulher tem um filho, a gente espera que ela tenha uma rede de apoio, que algumas pessoas cuidem da casa e cuidem dela, para que ela possa ter tempo para se dedicar ao bebê, porque é uma demanda muito grande, e na pandemia, isso complica porque precisamos ficar em isolamento. (…) Acontece uma ‘solidão materna’ muito grande.”

“Falam muito que a mulher entra em luto quando tem um bebê, porque não nos reconhecemos em vários aspectos, tanto nas questões físicas, como psicológicas. Também sinto que quando eu estava grávida as pessoas olhavam muito para mim, mas depois que a Aurora nasceu, percebi que as pessoas olham para o bebê, não olham mais para a mulher. Isso é muito doloroso e acho que se intensificou com a pandemia”, completa. 

Laura Carvalho, moradora de São Paulo e auxiliar administrativa, passou por um processo diferente. Seu filho Caê nasceu bem no início da pandemia no Brasil, no dia 23 de março de 2020. Durante a gestação, ela não enfrentou o isolamento, mas ele veio junto com o puerpério. 

“Eu e meu marido escolhemos nos isolar, por isso não recebemos visitas e nem ajuda nesse período. Isso me trouxe muitas inseguranças também, tudo que acontecia a gente se virava, era só nós dois, e muitas vezes era só eu. Eu me senti muito sozinha no puerpério, acho que nunca me senti tão sozinha na minha vida, por conta dessa escolha que tomamos de não receber ninguém na nossa casa”, conta.

Dia das mães e isolamento 

“No ano passado, no dia das mães, minha filha estava na barriga. Agora, com ela aqui nos braços, me sinto mais completa. Parece que faltava uma parte. Acho que este dia das mães vai ser uma coroação por tudo que passamos, desde os problemas da gestação”, explica Cristiane. Ela ainda ressalta que sua filha Eliza não conseguiu conhecer grande parte de seus amigos e parentes, e que tem maior contato apenas com os avós. 

Cristiane Moraes e sua filha Eliza 

Neste segundo dia das mães ao lado do pequeno Caê, Laura conta que esperava uma situação diferente. “Eu achava que neste período já teríamos mais vacinas, não era para estarmos nessa situação tão complicada, era para eu poder comemorar esse dia das mães ao lado da minha mãe e da minha sogra também, mas infelizmente essa não é a realidade.”

“Se tem uma coisa que me impactou emocionalmente foi o isolamento social, meus olhos se enchem de lágrimas. Isso acontece por eu não ter conseguido apresentar o meu filho para pessoas que amo, e por ele não ter conseguido criar mais momentos especiais nessa época da vida que passa tão rápido.”

Laura Carvalho e seu filho Caê

Amanda explica que por causa da pandemia não irá ver os familiares. “Não dá para quebrarmos os protocolos. Sempre quando tem a quebra de protocolo, como mãe, me sinto muito culpada, mas também me sinto culpada por não deixar minha filha ver os avós.”

“Esse vai ser o meu primeiro dia das mães com a Aurora do meu lado. Eu já estava grávida no ano passado, mas não sabia. Até chorei no dia das mães por causa da dificuldade de engravidar e por achar que não estava grávida. Esse dia das mães vai ser um dia bem importante, não dá para passar batido. É importante comemorar, mesmo que seja só entre eu, meu marido e a Aurora.”

Amanda Pina e sua filha Aurora 

Por Leticia Sepúlveda, da TV Cultura

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