Entretenimento

‘Hollywood’, da Trilogia de Mamet, entra em cartaz em São Paulo

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Rubens Caribé e Iuri Saraiva (Foto: Gustavo Paso / Divulgação )

‘O que é arte e o que é comércio?’, ‘Qual é o papel das artes no mundo?’ Sob essas indagações, a terceira peça da Trilogia de David Mamet entra em cartaz no Sesc Pinheiros, seguida dos dois primeiros espetáculos da CiaTeatro Epigenia, ‘Oleanna’ e ‘Race’.

‘Hollywood’, idealizado pelo autor e diretor Gustavo Paso, busca oferecer ao público diálogos profundos e envolventes através da história de conflito de um homem em dúvida ente realizar um filme considerado ‘mais do mesmo’ ou realizar uma super produção recheada de conceitos capazes de ajudar o Homem Contemporâneo.

A discussão sobre o eterno confronto entre a Arte e Entretenimento são abordados pelos personagens de Tony Muller e Daniel Fox, interpretados pelos atores Rubens Caribé e Daniel Fox. Eles são dois executivos interessados em sucesso de bilheteria que incorporam diversos personagens de David Mamet.

Em entrevista para o Globo Teatro, o autor Gustavo Paso falou sobre o espetáculo, a dificuldade em produzi-lo e o ponto central de discussão da trama entre arte e comércio:

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1. Desde a estreia das peças da trilogia de David Mamet, você vem recebendo convites para festivais e diversas indicações a prêmios. Como está sendo pra você esse momento de tanto destaque e o que planeja teatralmente para 2018?

Gustavo Paso: Qualquer tipo de reconhecimento é sempre bem-vindo. Nós completaremos 18 anos de fundação da Cia este ano, e mesmo com uma história de sucessos de público e crítica, se você pegar os últimos 4, 5 anos, nossas criações estão sempre entre as melhores do ano. Em 2017 recebemos quase 30 indicações a prêmios no eixo Rio/São Paulo, porém nossa cia nunca teve uma sede, nunca tivemos um local para desenvolvermos as técnicas que venho aprimorando a cada trabalho. Isso sem falar em patrocínio para produção dos espetáculos da Trilogia Mamet. Todas as três foram montadas com recursos próprios. Mesmo assim nós resistimos. Nosso processo de escolha do que vamos fazer está diretamente ligado ao que nos move. Colocar em cena textos que falem sobre a situação do Ser Humano Contemporâneo. Temos dois clássicos, projetos antigos que não saem do papel por falta de verba. Otelo é um deles. Estamos namorando textos inéditos no Brasil, um musical sobre o processo de criação de compositores clássicos e dois novos infantis inspirados em contos estrangeiros. Tudo segredo!

2. Com a estreia de ‘Hollywood’, você acredita que o público que sair do Teatro com uma visão mais aprofundada sobre o que é arte e comércio? Como é fomentar essa discussão?

Gustavo Paso: Esperamos que sim. Os temas que levamos para o palco são pensados para que o público possa se confrontar com eles e refletir. Inclusive, o fato de termos debates depois de todas as sessões da trilogia é uma ação para que todos possam discutir juntos, plateia e artistas, logo após o frescor do fim do espetáculo.

O nosso panorama atual não existe discussão sobre Arte. Com o advento das leis de incentivo, o que poderia ser um Bem, é um verdadeiro balcão de negócios onde empresários do teatro se engalfinham para levar “para casa” seu patrocínio de milhões e montar uma peça, enquanto quem realmente se preocupa em colocar espetáculos com conteúdo, conceito e pesquisa acaba “arriscando a vida” para produzir, muitas vezes o que há de melhor no panorama anual do teatro, enquanto o “investimento cultural” dos grandes patrocinadores faz valer o potencial de qualquer projeto desde que tenha alguma pessoa midiática, ator ou não, pois atrai mais do que o pensamento, o conceito e a Arte. As leis estão programadas para diretores de marketing realizarem seu networking e expor suas marcas aos seus clientes e fornecedores, muitos deles expostos em shows autobiográficos disfarçados de musicais vergonhosos! O país também tem que começar a ouvir mais quem faz cultura, com o propósito de incutir conceitos éticos e estéticos baseados em princípios artísticos, antes de tudo, não em bases comerciais, mas que dite o que recebe investimento, como dizemos no meio: “saiu da plateia direto para o poder”. Precisamos de mais Artistas decidindo o futuro do teatro.

3. O espetáculo aborda o conflito de um homem na dúvida sobre realizar um filme similar ao do que já tem no mercado ou realizar uma produção densa e com muitos conceitos capazes de mudar a humanidade. Falando de você, qual tipo de filme particularmente mais te agrada?

Gustavo Paso: Tem uma citação no texto muito contundente: “Eu vou fazer o melhor filme que todo mundo já viu (…) mais do mesmo, só que melhor”. Eu gosto de tudo! Acho que posso ver a coisa mais imbecil do planeta, simplesmente porque não consumo somente coisas imbecis, o que me dá respaldo, proteção e poder crítico para saber quando estou consumindo algo imbecil. Sendo bem específico, uma listinha de cinco diretores que não deixo de ver e rever: Lars von Trier, Tim Burton, Tornatori, Alejandro Iñárritu e o gênio Woody Allen. Amo o Leslie Nielsen!

4. Gustavo, você “traduziu para o palco” a trilogia do autor norte-americano David Mamet: ‘Oleanna’, ‘Race’ e ‘Hollywood’. Você poderia falar para o público, qual é a principal diferença da última peça da Trilogia, ‘Hollywood’, para as outras duas?

Gustavo Paso: A mais contundente é que se trata de uma comédia com todas as características dessa fase do autor. A marca registrada de Mamet é a sua habilidade de dramatizar o fascínio dos homens por outros homens, o que é um tabu em nossa sociedade. Em Hollywood, este fascínio homossocial é totalmente explícito. Nenhum outro dramaturgo explorou essa zona de guerra chamada amizade masculina com um bisturi tão afiado como o dele. Nas três obras, sentimos o reflexo de nossa sociedade alicerçada pelo poder masculino. Mamet encontrou o que iria cativar por sua imaginação e intelecto suas obras futuras, o conflito entre: “a necessidade de ser aceito e a necessidade de se vingar. Minhas peças são todas sobre pessoas que tentam conectar-se, tentando fazer o bem. Mas ninguém sabe como. Ninguém luta o bastante pra isso”.

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