Confirmada 4ª morte em presídios de SP
Vítima estava presa em Lucélia, no interior paulista, onde 14 pessoas morreram em 44 dias de causas diversas; seis detentos estão infectados no estado
Num intervalo de 44 dias, 14 presos morreram na Penitenciária de Lucélia, destinada a autores de crimes sexuais e situada na região oeste do estado de São Paulo, distante 607 km da capital. Um deles, Idenyldo Silva, 76 anos, é a 4ª vítima da Covid-19 no sistema prisional paulista.
Outros três presos morreram desde o início da pandemia: dois na P2 de Sorocaba e um na P1 de Mirandópolis, ambas unidades prisionais do interior do estado. No país, 5 presos já morreram por coronavírus em presídios. Até a publicação da reportagem, o monitoramento do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) não havia atualizado esse número.
Entre os outros 13 presos mortos em Lucélia, cinco tiveram como causa do óbito insuficiência respiratória. Outros seis a causa da morte ainda é indeterminada.
Um preso morreu de arritmia cardíaca, distúrbio metabólico e colite. Outro foi vítima de infarto agudo do miocárdio.
As mortes em Lucélia aconteceram entre os dias 4 de março e 17 de abril deste ano. Os presidiários mortos tinham entre 48 e 93 anos. A maioria dos óbitos ocorreu neste mês: 10 casos.
O medo de morrer da Covid-19 ronda as celas lotadas da Penitenciária de Lucélia. O presídio tem capacidade para 1.440 presos e abriga 2.315. Na ala onde o preso morreu de coronavírus, ao menos 40 prisioneiros foram isolados do restante da população carcerária.
A Ponte enviou nesta quinta-feira (23/4) e-mail para a assessoria de imprensa da SAP-SP (Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo), pedindo o número de presos mortos em Lucélia nos meses de fevereiro, março e abril deste ano.
A SAP não divulgou os dados alegando que o mês de abril não havia terminado. A reportagem apurou o nome e a idade de cada um dos 14 mortos no período de 44 dias em Lucélia.
Condenado a oito anos por estupro de vulnerável, o presidiário José Vicente Lima é o mais idoso da lista. Ele tinha 93 anos e morreu no dia primeiro de abril. No atestado de óbito dele consta como causa da morte arritmia cardiaca, distúrbio metabólico e colite.
O enterro de Aparecido Firmino dos Santos não contou com a presença de nenhum parente. Segundo o Serviço Funerário de Lucélia, ele foi sepultado no cemitério da cidade como “indigente”.
O caixão era do tipo mais simples. No túmulo não havia nenhuma coroa de flores. Aparecido era o segundo mais idoso na lista de mortos de Lucélia.
O preso tinha 86 anos e faleceu no dia 6 de abril. A causa da morte ainda é indeterminada, segundo o atestado de óbito. Com medo da Covid-19, os funcionários do serviço funerário usaram roupas especiais no sepultamento de Aparecido.
Idenyldo Silva, de 76 anos, condenado a 36 anos por estupro, vítima da Covid-19 em Lucélia morreu no dia 13 de abril. No atestado de óbito consta que ele sofreu insuficiência respiratória, síndrome do desconforto respiratório e pneumonia.
No atestado de óbito de Idenyldo foi mencionada ainda a seguinte observação: “Aguardando exames laboratoriais”. O exame chegou nesta sexta-feira (24/4).
A mesma frase foi escrita no atestado de óbito do preso Hélio Paiva de Oliveira, de 58 anos, morto no dia 16 de abril. A causa da morte: insuficiência respiratória, síndrome do desconforto respiratório e pneumonia.
Os presidiários Antonio Rodrigues Jardim, 63 anos, morto no dia 2 de abril; Mário Nogueira dos Santos, 63 anos, falecido no dia 2 de abril; Carlos Mendonça, 71 anos, morto em 6 de abril, e Luiz Carlos de Lima Ferreira, 50 anos, morto em 13 de abril, também faleceram de insuficiência respiratória.
Os outros presos que tiveram a causa da morte apontada por enquanto como indeterminada são Lourival Rodrigues de Oliveira, 71 anos, morto em 9 de março; Benedito Sérgio Ferreira, 61 anos, morto em 24 de março; Carlos José Gomes, 48 anos, falecido em 29 de março, e Josias Carvalho, 62 nos, morto em 11 de abril.
O detento Severino Francisco Barbosa, de 48 anos, morreu em 4 de março e a causa da morte, a princípio, é infarto agudo do miocárdio.
Em nota divulgada às 17h54 desta sexta-feira, a SAP informou que “seis presos foram confirmados para Covid-19 no estado e que quatro faleceram”. Ainda segundo a SAP, entre os servidores, seis agentes contraíram Covid-19 e dois morreram.
Por Josmar Jozino – Repórter da Ponte