Política

CPI da covid-19 ouve Marcelo Queiroga, ministro da Saúde

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Marcelo Queiroga, ministro da Saúde (Marcos Oliveira/Agência Senado)

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prestou depoimento nesta quinta-feira (06/05) à Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a gestão governamental da pandemia de covid-19. Ele tentou evitar responder perguntas sobre a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro e irritou os senadores da CPI.

Queiroga foi pressionado para que se posicionasse sobre o uso da cloroquina no combate ao coronavírus, mas ele se recusou, afirmando se tratar de uma questão técnica. Ele, porém, disse que não autorizou a distribuição do tratamento ineficaz.

O ministro assumiu o cargo no dia 23 de março, após a demissão do general Eduardo Pazuello, Ao contrário de seu antecessor, Queiroga tem currículo na área médica. É presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e diretor do Departamento de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista de um hospital em João Pessoa.

Ele apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018 e integrou a equipe de transição do então presidente eleito. Antes de assumir o ministério, Queiroga chegou a fazer declarações pró-ciência, mas nas últimas semanas tem alinhado o discurso com Bolsonaro.

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A CPI da Pandemia já ouviu os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta  e Nelson Teich. O depoimento de Pazuello, cuja gestão foi marcada por entraves à vacinação e recorde de mortes e casos, será no dia 19 de maio.

O depoimento do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),que estava marcado para esta quinta-feira, foi adiado para a próxima terça.

Abaixo, os principais pontos do depoimento de Queiroga:

Cloroquina

Queiroga foi pressionado para esclarecer seu posicionamento em relação à cloroquina, o medicamento promovido pelo presidente Jair Bolsonaro no combate à covid-19, embora não haja evidências científicas que comprovem sua eficácia.

O ministro disse que não sofreu pressão de Bolsonaro para ampliar o uso da cloroquina ou hidroxicloroquina.

Ao ser perguntado se compartilhava da opinião do presidente sobre o medicamento, ele se recusou a responder. “Essa é uma questão técnica que tem que ser enfrentada pela Conitec [Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias] no SUS. O ministro é a última instância na Conitec, então eu vou precisar me manifestar tecnicamente.”

O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), e o relator Renan Calheiros (MDB-AL) se irritaram com a resposta do ministro. “Até minha filha de 12 anos falaria sim ou não”, disse Aziz. No entanto, Queiroga não respondeu à pergunta e pediu que os senadores compreendessem sua posição como gestor sanitário.

O ministro disse que não sabe se seu ministério realiza a distribuição de hidroxicloroquina para estados e municípios. “Não autorizei distribuição de cloroquina na minha gestão”, afirmou. “Não tenho conhecimento de que está havendo distribuição de cloroquina na nossa gestão.”

Isolamento social

O ministro evitou comentar a fala de Bolsonaro, na qual o presidente sugeriu um novo decreto contra políticas de isolamento social. “Não vou fazer juízo de valor”, disse após a insistência de Renan Calheiros.

Queiroga disse apenas que o presidente se preocupa com a liberdade das pessoas, e que concordaria com isso, e que não foi consultado sobre o assunto.

Polêmicas com a China

Queiroga foi questionado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) sobre a fala de Bolsonaro, que insinuou que a China teria criado o coronavírus. O ministro disse que desconhece “indícios de guerra química na China”.

“É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou por algum ser humano que ingeriu um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra?”, disse Bolsonaro nesta quarta-feira. “Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês”, afirmou a repórteres.

Queiroga tentou suavizar a questão, ao dizer que espera que as relações com o país asiático sejam boas. “Eu espero que essas relações continuem de forma positiva e não tenhamos impacto para nossa campanha de vacinação.”

Tratamento precoce x vacina

O ministro minimizou o chamado tratamento precoce contra a covid-19, defendido pelo presidente e seus aliados, e ressaltou a importância da vacinação e medidas como o distanciamento e uso de máscaras.

“Há um agrupamento de colegas que defendem fortemente esse chamado tratamento precoce com esses fármacos e há outros colegas que se posicionam contrariamente, e o Ministério da Saúde quer acolher todos para que cheguemos a um consenso. Essa questão do tratamento precoce não é decisiva no enfrentamento a pandemia, o que é decisivo é justamente a vacinação e as medidas não farmacológicas”, afirmou.

“Temos que orientar a população a aderir às medidas não-farmacológicas que parecem simples, e são simples. É necessário reforçar de forma reiterada, por exemplo, o uso da máscara”, disse o ministro em outro momento do depoimento.

As medidas não farmacológicas incluem o uso de máscaras e o distanciamento social, práticas recomendadas pelos profissionais de saúde, mas desprezadas por Bolsonaro e seu círculo.

Em relação ao uso de medicamentos off label [não prescritos em bula] como o antiparasitário ivermectina, Queiroga repetiu a resposta sobre o uso de cloroquina, afirmando que há duas correntes, uma favor e outra contra, a aplicação de medicamentos não comprovados.

“A solução que o Ministério da Saúde tem para resolver essa questão é a elaboração de um protocolo clínico e diretrizes terapêuticas”, disse Queiroga. Ele afirmou que essas questões devem ser discutidas colocadas para consulta pública.

Por Deutsche Welle

rc (OTS)

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