Ex-presidente Jeanine Áñez é presa na Bolívia
Jeanine Áñez, ex-presidente interina da Bolívia, foi detida neste sábado (13/03) no âmbito de uma investigação que a acusa dos crimes de conspiração, sedição e terrorismo, relacionados à crise política de 2019 que resultou na renúncia de Evo Morales da presidência do país.
Áñez foi presa em sua casa, no departamento amazônico de Beni, e foi encontrada pelos policiais escondida dentro de uma cama box, de acordo com a Agência Boliviana de Informação.
Dali, a ex-presidente foi transferida em um avião Hércules da Força Aérea Boliviana para La Paz, onde está presa na sede da Força Especial de Combate ao Crime (Felcc).
Na capital boliviana, Áñez foi levada para prestar depoimento no Ministério Público sobre o suposto “golpe de Estado”, mas, segundo a imprensa local, ela fez uso de seu direito ao silêncio.
A ex-senadora de 53 anos disse aos meios de comunicação que se trata de uma “intimidação política” e que por trás de todo esse processo está o Movimento pelo Socialismo (MAS), partido de Morales e do atual presidente boliviano, Luis Arce, que tomou posse em novembro de 2020.
“É um ultraje absoluto, porque nos acusam de sermos cúmplices de um suposto golpe, é algo que não tem pé nem cabeça e é uma intimidação absolutamente política”, afirmou.
Áñez também enfatizou que seu “status de ex-presidente” não está sendo respeitado e que recorrerá a organismos internacionais.
A prisão da política de oposição havia sido ordenada no dia anterior pelo Ministério Público da Bolívia, assim como a de quatro ex-ministros de seu governo, sob as mesmas acusações.
Os ex-ministros interinos Álvaro Coímbra (Justiça) e Rodrígo Guzmán (Energia) foram presos ainda na sexta-feira também no departamento de Beni e transferidos para La Paz. Já Fernando López (ex-ministro da Defesa) e Yerko Núñez (Interior) deixaram a Bolívia em novembro do ano passado e se encontram nos Estados Unidos, segundo a Interpol.
A própria Áñez divulgou em suas redes sociais o mandado de prisão contra ela e os ministros do seu governo, que durou de 12 de novembro de 2019 a 8 de novembro de 2020. Setores da oposição boliviana apontaram o que seria um “processo de perseguição” por parte do MAS.
Neste sábado após a prisão, Morales pediu que os responsáveis pelo “golpe de Estado” de novembro de 2019 sejam “investigados e punidos”.
“Pela justiça e a verdade, pelos 36 mortos, os mais de 800 feridos e os 1.500 detidos ilegalmente durante o golpe de Estado. Que sejam investigados e punidos os autores e cúmplices da ditadura que (…) lesaram a vida e a democracia na Bolívia”, declarou o ex-presidente no Twitter.
Por sua vez, o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos na Bolívia pediu um julgamento “justo, independente e imparcial” contra os ex-governantes.
Transição de poder atribulada
Áñez assumiu a presidência do país dois dias depois de Morales e o seu vice-presidente terem renunciado em meio a protestos. Antes, os chefes das Forças Armadas e da polícia haviam exigido que ele abandonasse o cargo como condição para que a estabilidade e a paz regressassem ao país.
Morales havia sido reeleito em 20 de outubro de 2019 para um quarto mandato seguido, sob suspeitas de fraude eleitoral. A Organização dos Estados Americanos (OEA) recomendou a convocação de novas eleições por conta de adulteração de atas e falsificação de assinaturas, assim como os Estados Unidos e a União Europeia. Um estudo independente apresentado em junho de 2020, porém, apontou falhas da análise estatística feita pela OEA sobre a eleição boliviana.
Após a renúncia, Morales exilou-se no México e depois na Argentina, e regressou ao país em novembro de 2020, após a vitória de Arce.
Quando Morales renunciou, Áñez era então a segunda vice-presidente do Senado e assumiu a presidência do país em meio ao vácuo de poder. Ela permaneceu no cargo até a realização de novas eleições.
Um grupo de investigadores da Comissão Interamericana de Direitos Humanos está na Bolívia apurando os fatos ocorridos em 2019.
Por Deutsche Welle
ek (AP, AFP, Efe, Lusa)