Trump planejou ato que precedeu invasão do Capitólio, aponta CPI
A comissão parlamentar que investiga a invasão do Capitólio, em Washington, por uma turba de extremistas de direita, divulgou um veredicto bastante incisivo sobre o caso nesta terça-feira (12/07): “O presidente Trump colocou seu plano em prática, a partir do seu discurso, conclamando apoiadores a marcharem rumo ao Capitólio”, afirmou a deputada democrata e membro do comitê Stephanie Murphy.
“As evidências confirmam que [o episódio] não se tratou de uma chamada espontânea à ação, mas sim de uma estratégia deliberada que o presidente havia decidido de maneira antecipada”, complementou Murphy.
Uma das evidências é um tuíte de Trump, publicado em 19 de dezembro de 2020, no qual ele diz: “Grande protesto em [Washington] D.C. em 6 de janeiro. Estejam lá! Será selvagem!”
Em junho, a comissão já havia responsabilizado Trump pelo ataque, classificando os acontecimentos como uma “tentativa de golpe”. Os investigadores argumentaram que a invasão foi resultado de repetidas e infundadas acusações – feitas pelo ex-presidente – de fraude após as eleições presidenciais.
Cassidy Hutchinson, antiga assessora da Casa Branca, já tinha revelado numa audiência anterior que o então presidente dos EUA sabia que os manifestantes estavam armados.
Hutchinson disse ainda que foi informada de que Trump interpelou furiosamente seu motorista do Serviço Secreto e agarrou o volante de sua limusine na tentativa de se juntar à multidão que marchava para o Capitólio.
A audiência de terça-feira, de portas abertas, refletiu como grupos de extrema direita, como Oath Keepers e Proud Boys, que lideraram esse protesto, se coordenaram e como pessoas de confiança de Trump estiveram em contato com eles.
Dias antes de o assessor de Segurança Nacional Michael Flynn ter participado de uma reunião no Salão Oval que discutiu como inverter o resultado das eleições, ele foi fotografado fora do Capitólio com membros dos Oath Keepers.
Da mesma forma, o ex-colaborador trumpista e amigo Roger Stone utilizou um chat criptografado para coordenar esforços contra a contagem dos votos dois dias após o encerramento da votação. O chat, chamado de “Amigos de Stone”, envolvia membros de ambas as organizações.
Após um discurso incendiário de Trump, que não aceitava a derrota no pleito de novembro de 2020, uma turba de extremistas de direita invadiu, ocupou e depredou a sede do Congresso dos EUA, considerado o coração da democracia americana, deixando um saldo de cinco mortos e dezenas de feridos.
Na ocasião, dia 6 de janeiro de 2021, políticos que compõem o Congresso estavam reunidos para oficializar a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais.
A comissão que investiga a invasão do Capitólio também advertiu o ex-presidente contra tentativas de influenciar testemunhas. A republicana Liz Cheney afirmou que Trump havia tentado contatar uma testemunha que ainda não havia prestado depoimento publicamente.
“Preciso dizer novamente que levaremos muito a sério qualquer tentativa de influenciar o depoimento de uma testemunha”, reforçou Cheney.
Bolsonaro ameaça: “Sabemos o que temos que fazer”
Assumidamente fã de Trump, o presidente Jair Bolsonaro tem dado uma série de declarações contra instituições democráticas e o sistema eleitoral brasileiro. Em uma live no dia 7 de julho, ele fez críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às auditorias das urnas eletrônicas executadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Devido a isso, Bolsonaro fez uma alusão dúbia ligando as eleições presidenciais deste ano no Brasil com a invasão do Capitólio nos Estados Unidos. Em tom de ameaça, disse que não espera um episódio semelhante, mas que “sabe o que fazer antes das eleições”.
“Não preciso dizer o que estou pensando, ou o que está em jogo. Você sabe como você deve se preparar, não para um novo Capitólio, ninguém quer invadir nada. Mas sabemos o que temos que fazer antes das eleições”, afirmou Bolsonaro, durante a live.
A declaração ocorreu exatamente um dia depois de o ministro do STF, Edson Fachin, ter alertado para os riscos que a eleição presidencial deste ano pode gerar no Brasil, inclusive com uma situação ainda mais grave do que a que ocorreu em Washington.
Exército americano não apoiou Trump
Enquanto nos Estados Unidos o exército americano excluiu qualquer possibilidade de apoiar a empreitada de Trump, no Brasil militares têm se manifestado de maneira similar a Bolsonaro quanto à possibilidade de fraudes – até hoje, nunca comprovadas – em eleições passadas e também nas que acontecerão em outubro.
Alguns integrantes do exército brasileiro cobram mudanças no sistema eleitoral e, inclusive, estariam preparando uma fiscalização paralela para as eleições deste ano, com lacração de urnas, testes de autenticidade e verificação da totalização dos votos. Em maio, por exemplo, Bolsonaro disse que o seu partido, o PL, contrataria uma auditoria privada para atuar no processo de conferência dos votos eletrônicos.
No fim de junho, as Forças Armadas solicitaram arquivos das eleições de 2014 e 2018, pleitos nos quais Bolsonaro alega ter ocorrido fraude. É o mais recente episódio de alinhamento ao discurso do presidente de desacreditar o sistema eleitoral e também as urnas eletrônicas.
gb (dpa, AFP, ots, EFE)