Há 10 anos no Brasil, vacina pneumocócica amplia proteção
Por Paula Laboissière
Há dez anos, a primeira versão de uma vacina pneumocócica conjugada era aprovada no Brasil. No ano seguinte, a dose, que protege contra quadros que variam de simples dores de ouvido até casos graves de meningite e septicemia, passou a ser distribuída na rede pública e particular de saúde.
Dados da Sociedade Brasileira de Imunizações apontam uma redução de até 40% no número de internações por pneumonia no país e de 70% dos casos de meningite pneumocócica.
“A gente tem um tremendo impacto desde a introdução da vacina”, disse o infectologista pediátrico Renato Kfouri, membro do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde.
Em entrevista à Agência Brasil, ele explicou que a bactéria pneumococo é responsável por doenças não invasivas, como sinusites e conjuntivites, mas, quando invade a corrente sanguínea, pode causar quadros graves de pneumonia, pericardite e até septicemia.
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“Quando falamos da vacina pneumocócica, não se trata de proteção contra uma única doença, como catapora ou gripe, mas contra uma série de doenças”, disse. Kfouri destacou que existem mais de 90 sorotipos da bactéria e que a vacina é feita contemplando alguns deles.
A primeira dose no Brasil, aprovada em 2009, protegia contra sete sorotipos. Atualmente, a rede pública oferece proteção contra 10 sorotipos e a rede particular, contra 13. Doses que contemplam 15 e 20 sorotipos estão em fase de desenvolvimento.
Na prática, quanto maior o número de sorotipos contidos na vacina, maior o espectro de proteção da dose. Segundo o pediatra, a seleção de sorotipos, nesse caso específico, utiliza critérios como a frequência da infecção, a gravidade dos casos associados a ela e a resistência a antibióticos.
As vacinas pneumocócicas normalmente incluem os sorotipos mais frequentes, que mais causam gravidade e os mais resistentes a tratamento. As doses são aplicadas aos 2, 4 e 12 meses de vida.
“As crianças, além de adoecerem com mais frequência, são as que mais transportam o pneumococo e transmitem para outras faixas etárias. Com a vacina, além de ficarem protegidas, elas deixam de portar a bactéria na garganta ou no nariz e deixam de ser transmissoras, diminuindo os casos da bactéria em adultos e idosos. Há, comprovadamente, esse efeito indireto, que chamamos de proteção rebanho”, explicou.
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Otávio Cintra, diretor médico de vacinas da GSK, fabricante da vacina pneumocócica utilizada pelo governo brasileiro, lembra que o processo começou com uma parceria para transferência de tecnologia entre o laboratório e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“O Brasil foi um dos primeiros países que introduziu, em larga escala, uma vacina conjugada, da nova geração. Até então, tínhamos vacinas polissacarídias, que não dão manutenção, ao longo do tempo, na produção de anticorpos”, relatou.
“Na vacina conjugada, a proteína junto ao polissacarídio se transforma em um antígeno muito mais potente e que já pode ser usado a partir dos 2 meses de vida.
A dose anterior só podia ser usada a partir dos 2 anos e apenas para pessoas em situação de risco. Não atendia a necessidade, já que 80% das infecções por pneumococo acontecem em crianças menores”, disse.
A estimativa é que até 80% das crianças com menos de 1 ano terão pelo menos um episódio de infecção de ouvido – desses, cerca de 40% dos casos são causados pela bactéria pneumococo.
Novidade
Desde 2010, o Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde oferece a vacina pneumocócica 10 valente, que protege contra 10 sorotipos da bactéria.
O ministério, entretanto, acaba de autorizar a incorporação de uma dose que engloba 13 sorotipos, a ser disponibilizada exclusivamente em Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais para os seguintes grupos: pessoas vivendo com HIV/Aids; transplantados de órgãos sólidos ou células-tronco da medula óssea; e imunodeficiência devido a câncer ou imunodepressão terapêutica – todos acima de 5 anos de idade. As aquisições das doses estão em processo de desenvolvimento.