Política

Ex-diretor da Saúde preso na CPI paga fiança e é solto

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Roberto Ferreira Dias deixa depoimento acompanhado pela Polícia Legislativa (Marcos Oliveira/Agência Senado)

Horas depois de ser preso sob a acusação de mentir durante depoimento à CPI da Pandemia, o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias pagou fiança no valor de R$ 1.100 e foi liberado na noite desta quarta-feira (07/07).

Ele permaneceu detido nas dependências da Polícia Legislativa, no subsolo do Congresso Nacional, entre cerca de 18h – quando terminou a sessão da CPI, após mais de sete horas de depoimento – e 23h. Dias deixou o local no banco de trás de um carro, junto de sua advogada, e sem falar com jornalistas.

Agora ele deve responder em liberdade por falso testemunho a uma CPI, crime previsto na lei 1579, de 1952, sobre comissões parlamentares de inquérito, e que pode levar a até três anos de prisão e multa. O valor da fiança foi calculado de acordo com a renda de Dias.

Ao pedir a prisão de Dias, o presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que o ex-diretor mentiu ao colegiado durante seu depoimento. “Ele está mentindo desde a manhã, dei chance para ele o tempo todo. Pedi por favor, pedi várias vezes. E tem coisas que não dá para… os áudios que nós temos do Dominghetti são claros”, disse Aziz. “Ele vai estar detido agora pelo Brasil, pelas vítimas que morreram.”

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Foi a primeira vez que Aziz pediu a prisão de um depoente desde o início da CPI. “Todo depoente que estiver aqui e achar que pode brincar terá o mesmo destino”, disse o senador. 

Senadores governistas chegaram a pedir para que Aziz reconsiderasse a detenção. A ordem dividiu até mesmo a oposição ao governo na CPI.

O depoimento

A ordem de prisão foi dada após o colegiado reproduzir áudios que reforçaram suspeitas de participação de Dias em um esquema fraudulento de venda de vacinas.

Os áudios, publicados no site da CNN Brasil, foram encontrados no celular do PM Luiz Paulo Dominghetti, que prestou depoimento na semana passada e teve o aparelho apreendido. Na ocasião, ele acusou Dias de cobrar propina durante um encontro de negociação de vacinas.

No seu depoimento, Dias negou que tenha pedido propina ao policial militar, mas confirmou que conversou com ele num shopping de Brasília. Segundo Dias, a reunião aconteceu acidentalmente, enquanto ele tomava um chope com um amigo. A afirmação provocou incredulidade entre vários senadores.

No entanto, os áudios do celular de Dominguetti indicaram que o encontro não teria sido por acaso, como disse Dias, mas havia sido previamente combinado. Nas mensagens, o policial já falava com um interlocutor sobre o encontro dois dias antes da data do jantar.

Dominghetti, que se apresentava como representante de uma empresa americana interessada em vender 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 ao governo brasileiro, afirma que nesse encontro Dias teria pedido propina de 1 dólar por vacina vendida.

Segundo Dias, no encontro, Dominghetti não teria apresentado credenciais da AstraZeneca para intermediar o negócio. O ex-diretor afirmou que sugeriu ao PM que este pedisse uma audiência no Ministério da Saúde. Dominghetti foi recebido no dia seguinte na sede da pasta.

Foram justamente as falas sobre o encontro que levaram Aziz a pedir posteriormente a prisão de Dias.

Em outros momentos do depoimento, Dias soou contraditório aos senadores ao afirmar que não era responsável por negociar vacinas, mas em seguida relatar suas conversas com a empresa representada por Dominghetti.

Dias foi exonerado do cargo em 29 de junho, poucas horas após as acusações de Dominghetti serem publicadas pela imprensa. Na CPI, o ex-diretor chamou Dominghetti de “picareta” e “aventureiro”.

“Estou há mais de dez dias sendo massacrado e citado em todos os veículos de comunicação sem que haja uma única prova ou indício que sustente tais alegações”, disse Dias no início da sessão.

Ligação com líder do governo

O ex-diretor é ligado ao deputado Ricardo Barros (PP-PR) e está no centro de duas denúncias distintas sobre supostos esquemas fraudulentos de venda de vacinas para o Ministério da Saúde.

Um dos esquemas foi o apontado por Dominghetti, e envolve a Davati Medical Supply, uma empresa de fachada sediada no Texas. Outra negociação suspeita envolve a vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech e vendida ao Brasil pela intermediária Precisa Medicamentos, caso que foi denunciado pelos irmãos Miranda há duas semanas. Nesse caso, Dias é acusado de pressionar pela aprovação do negócio.

Os escândalos vêm pressionando o governo Jair Bolsonaro, que além de críticas pela má gestão da pandemia e o negacionismo agora enfrenta acusações de corrupção.

Na sessão desta quarta-feira, os senadores também tentaram entender por que o ministério abriu as portas tão rapidamente para uma negociação bilionária com a Davati, uma empresa claramente sem estrutura para fornecer tantas vacinas e que não tinha autorização da AstraZeneca para atuar como representante, enquanto grandes laboratórios como a Pfizer penavam até mesmo para obter respostas para e-mails. “Com a Pfizer é difícil, com a Davati é fácil”, ironizou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Por Deutsche Welle
lf (ots)

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