São Paulo

Deslizamentos no litoral completam seis meses e APqC faz alerta sobre Mapas de Risco

No dia em que a tragédia no litoral de São Paulo que matou 64 pessoas, um levantamento feito pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) mostra que a maioria das cidades do litoral norte e sul do Estado não atualiza os Mapas de Riscos de deslizamento há pelo menos cinco anos. Os casos mais graves, segundo dados obtidos junto a Defesa Civil do Estado, são Ubatuba e Ilhabela, que realizaram o levantamento em 2006. 

O mapa é um documento que reúne informações sobre áreas com potencial de deslizamento, identificadas por geólogos após análise de solo. Ele deve conter ainda o levantamento de pessoas potencialmente impactadas em caso de acidentes e seus endereços. 

Juntos, os dois municípios têm quase 130 mil habitantes, além de uma população flutuante que visita a cidade em função do turismo. Nos dois casos, os municípios realizaram, em 2014, uma Carta de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de massa e inundações. 

“Esta carta é um levantamento importante, porém mais superficial, que não identifica potenciais vítimas, o que compromete um plano mais eficiente de resposta por parte do poder público”, explica Patricia Bianca Clissa, presidente da APqC. 

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O maior número de mortes após fortes chuvas que atingiram o litoral, em 18 de fevereiro, ocorreu em São Sebastião.  

“Nos últimos anos, o Estado tem negligenciado esta área, chegando ao ponto de extinguir o Instituto Geológico em 2020, passando suas atribuições para uma instituição recém-criada, o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), sem a estrutura necessária para realizar este trabalho fundamental para evitar que novas tragédias como essa de São Sebastião se repitam no próximo verão”, destaca Clissa. 

A entidade aponta que a extinção do Instituto Geológico gerou impacto na realização do trabalho por parte dos cientistas que atuam no órgão, que não conta mais com frota de carros para coletas de campo.  

“Hoje, para fazer uma análise de solo, por exemplo, é preciso solicitar um veículo ao Estado, aguardar disponibilidade para realizar o trabalho. Além disso, não há contratações e alguns laboratórios têm operado com insumos emprestados por outras instituições do Estado”, argumenta a presidente da APqC. “É um desmonte do sistema ambiental e de pesquisa científica que também levou a extinção de outros dois Institutos, o de Botânica e o Florestal, além da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), que impactam diretamente a vida dos moradores”. 

Emergência Climática 

Patricia Bianca Clissa, presidente da APqC (Leo Barrilari/Divulgação)

Diante da emergência climática, a APqC afirma que a atualização dos Mapas de Risco se torna ainda mais necessária.  

“O cenário de risco de 2014 é completamente diferente do momento atual, com chuvas fortes, acima da média, muito mais frequentes”, reforça Clissa. 

Além de Ubatuba e Ilhabela, a cidade de Guarujá, que também registrou mortes no último verão, não atualiza o Mapa de Riscos desde 2007. Caraguatatuba aparece na sequência, com documento criado em 2010. Santos, a maior cidade do litoral sul, está com o Mapa de Riscos desatualizado desde 2012. Itanhaém e Peruíbe possuem documento datado de 2013. Bertioga e São Sebastião, município com maior número de mortes no verão passado, atualizaram o Mapa de Riscos em 2014.  

No caso de São Sebastião, a Carta de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de massa e inundações foi realizada em 2017. No ano seguinte, foi criado um Plano Municipal de Redução de Riscos. 

Cubatão (2018) e Praia Grande (2019) aparecem na sequência. As três cidades com o Mapa de Riscos mais recente são Iguape, Cananéia e Ilha Comprida, que realizaram em 2020. 

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