Dia dos Pais: O segredo do sucesso quando pai e filho são sócios
Tocar um negócio em família tem vantagens importantes. As empresas familiares, segundo o Sebrae, são mais enxutas, o que representa menos custos, mas há também muitos desafios.
No Dia dos Pais, recorremos ao Panorama dos Pequenos Negócios de 2018 para mostrar que parcerias entre pai e filho na hora de gerir uma empresa são representativas. Este levantamento feito pelo Sebrae mostrou que 39% das pessoas com 60 anos ou mais têm filhos como sócios.
O consultor da Goakira, José Fugice, considera que o sucesso dessa parceria depende diretamente do envolvimento do filho no negócio do pai. “Muitas vezes, o pai força a barra para que o filho ou a filha siga o caminho dele, porque quer dar continuidade no negócio. No entanto, a pessoa pode não querer, pode ter afinidade com outro tipo de negócio e até mesmo ser empregado”, comenta.
Na família Peters foi exatamente o contrário. Padrasto e filhos se uniram desde a criação da empresa.
Assim surgiu, em 2015, a Brickell Pizzas. Comandada pelos irmãos Nickolas e Victória Peters, a rede de franquias tem as finanças administradas pelo padrasto dos gêmeos, Fernando Lobe. Neste caso, a empresa familiar foi projetada de forma conjunta e eles conseguiram desenhar um modelo de negócio que logo caiu no gosto dos clientes.
A proposta é oferecer por R$39,90 pizza, sorvete, refrigerante entre outros itens à vontade.
“Essa parceria em comum acordo fortaleceu a marca e hoje estamos indo além, oferecendo esse modelo de negócio para investidores interessados em trabalhar com uma franquia da Brickell Pizzas”, comemora Fernando.
Para que as relações permaneçam em harmonia e a empresa cresça, o especialista cita outros pontos que podem ser decisivos na hora de tocar o negócio familiar.
Hierarquia familiar:
A ideia de que a palavra do pai tem que ser respeitada nem sempre pode ser colocada em prática dentro da empresa. As vezes, para o bem do negócio, é preciso inverter a hierarquia familiar.
Com negócio familiar sem perspectivas após a crise econômica de 2015, Arthur Marcolino decidiu que era o momento de virar a página do negócio da família e apostar em um novo segmento. Junto com a esposa, Renata, o empresário criou a Mil e uma Sapatilhas.
A escolha de vender sapatilhas a preço único, R$ 40, começou com o propósito de ajudar o negócio do pai. “O começo do negócio não foi fácil. Meu pai não acreditava na comercialização de calçados para mulheres. Para ele, que já tinha uma loja de móveis para escritório, a venda de sapatilhas era algo sazonal”, lembra Arthur.
Não demorou muito para que a família comprovasse o sucesso dessa reinvenção no mundo dos negócios. Hoje, com mais de cem unidades espalhadas pelo Brasil, a empresa tem previsão de faturar R$ 40 milhões em 2018.
Inovação
É comum nessas sociedades familiares que haja um conflito de gerações, principalmente considerando os avanços tecnológicos dos últimos dez anos. Os pais, nesses casos, precisam estar abertos à inovação.
A Cia do Sono, empresa fundada em 1987, passou por essa experiência quando, em 2012, enfrentou um momento difícil. Felipe Pedroso decidiu assumir o comando da empresa familiar que estava endividada e pouco produtiva.
O jovem decidiu apostar em uma novidade, o “colchão gourmet”, produzido sob medida para cada cliente. Aberto a novas ideias, o pai apoiou a mudança de rumo e viu o faturamento crescer.
“Criamos mais produtos e, com o apoio do meu pai, fizemos a empresa faturar em 2017 R$ 15 milhões”, comemora Felipe.
Estabelecer limites nas decisões
Uma das formas de evitar conflitos na sociedade entre pai e filho é estabelecer limites. “Identificar quem tem competência para fazer o que e encaixar as peças nos devidos lugares”, explica Fugice.
Sylvio Mattos é sócio do filho Raphael no Grupo Drumattos, donos das franquias Camarão e Cia, Camarada Camarão, Recife’s e Pizza Studio. Experiente, Sylvio diz que ele e o filho aprenderam a lidar com as opiniões contrárias.
“O jovem é mais afoito e ousado, eu hoje já sou mais comedido nas ações, mas é importante ter essa ousadia e modernidade que o Rapha traz para a empresa”, comenta.
Dentro da empresa, os dois têm papéis definidos e usam o diálogo para chegar ao que é mais importante para empresa. “Já ‘sofri’ isso com meu pai. A sociedade é muito difícil. Com filho, mais ainda. Existem diferenças muito grandes entre os pensamentos e estilos, mas sempre procurei trazer ele para perto dos negócios”, destaca Sylvio.
Valorizar boas ideias
Durante alguns anos, Nícolas Fonseca Martins também trabalhou com o pai em uma empresa de coleta de lixo eletrônico. O empresário sempre viu muito potencial no negócio, principalmente considerando a quantidade crescente de material desse tipo sendo gerada pelo mundo.
“Eu queria expandir as ações de coleta, chegar a mais lugares com as ideias de reciclagem, mas meu pai já tinha o formato de trabalho dele e não ia mudar”, comenta Nícolas.
Foi aí que ele decidiu, em 2015, com a ajuda do pai, montar uma empresa do mesmo ramo, só que desta vez com as ideias dele. A Sucata Digital foi além de coleta e implantou projetos de conscientização ecológica; também passou a gerenciar o lixo eletrônico que chega até a empresa.
“Em três anos nós expandimos o negócio e hoje estamos prontos para espalhar a ideia por várias regiões de São Paulo por meio da franquia”, diz.
A Sucata Digital já processou mais de 800 toneladas de lixo eletrônico.