Brasil

Terra Yanomami tem emergência declarada pelo Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional no território indígena Yanomami, em Roraima. O objetivo é ampliar esforços para combater a grave situação de desassistência sanitária em que se encontram os indígenas yanomamis que vivem na região e sofrem com casos de desnutrição extrema e malária, entre outros. A portaria foi publicada na noite desta sexta-feira (20/01), em edição extra do Diário Oficial da União.

Neste sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros chegaram a Roraima para verificar de perto a situação dos indígenas.

Crianças magras, desnutridas, aparecem em foto comendo. Indígenas, elas estão sem roupa. Algumas estão sentadas em espaço todo de terra.
Crianças yanomamis em foto publicada nas redes sociais (Rede social/Reprodução)

Após visitar o hospital e a Casa de Apoio à Saúde Indígena, em Boas Vista, Lula disse que a situação dos povos yanomamis é “desumana” e prometeu acabar com o garimpo ilegal.

“Se alguém me contasse que aqui em Roraima tinham pessoas sendo tratadas da forma desumana como o povo yanomami é tratado aqui, eu não acreditaria”, lamentou.

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“Nós vamos tratar os nossos indígenas como seres humanos, responsáveis por parte daquilo que nós somos”, completou.

Situação gravíssima

A gravíssima situação dos yanomamis voltou à tona esta semana, quando equipes do Ministério da Saúde visitaram a região, que tem mais de 30,4 mil habitantes.

“O grupo se deparou com crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutrição grave, além de muitos casos de malária, infecção respiratória aguda (IRA) e outros agravos”, informou a pasta.

A terra indígena Yanomami é a maior do país em extensão territorial e sofre com a invasão de garimpeiros. O povo da região vive uma crise sanitária que já resultou na morte de 570 crianças por desnutrição e causas evitáveis nos últimos anos.

Presidente Lula usando máscara facial se aproxima de indígenas. Mulher segura criança bem magra no colo. Outras pessoas acompanham lula.
Lula durante visita aos Yanomamis (Ricardo Stuckert/PR)

Um levantamento feito pelo Ministério da Saúde registrou três óbitos de crianças indígenas nas comunidades Keta, Kuniama e Lajahu entre 24 e 27 de dezembro de 2022. Somente no ano passado, foram registrados 11.530 casos confirmados de malária na terra Yanomami.

Além disso, de acordo com o  Ministério dos Povos Indígenas, nova pasta criada pela gestão Lula, 99 crianças do povo Yanomami morreram devido ao avanço do garimpo ilegal na região em 2022.

Visita a Boa Vista

Durante a visita a Boa Vista, Lula destacou que uma das formas de melhorar a assistência aos yanomamis é montar plantões de saúde nas aldeias. “Fica mais fácil a gente transportar dez médicos do que 200 indígenas que estão aqui”, disse, referindo-se aos yanomamis atualmente em tratamento na capital de Roraima. 

Atualmente, cerca de 700 indígenas estão sendo atendidos na casa de apoio, a maioria crianças com desnutrição grave.

Umas das ações prioritárias, segundo Lula, é organizar a rede logística para o transporte de suprimentos e das pessoas entre as aldeias e a cidade, como a melhoria de pistas de pouso de aeronaves em regiões mais próximas às comunidades. “Não pode ser feito em poucas horas, mas meu compromisso é de fazer”, disse Lula.

Cerca de 200 indígenas que estão na casa de apoio em Boa Vista já tiveram alta, mas não puderam retornar ainda por falta de transporte. “Fiz o compromisso com os irmãos [indígenas] que vamos dar a eles a dignidade que eles merecem na saúde, na educação, na alimentação, no direito de ir e vir para fazer as coisas que eles necessitam na cidade”, completou Lula.

Profissionais da Força Nacional do SUS começarão a chegar a Roraima na segunda-feira para fornecer atendimento multidisciplinar, principalmente focados na readequação alimentar, já que o principal problema é a desnutrição grave.

As Forças Armadas também montarão um hospital de campanha próximo à casa de apoio, em Boa Vista.

Fim do garimpo ilegal

A terra indígena Yanomami é a maior do país, em extensão territorial, e sofre com a invasão de garimpeiros. A contaminação da terra e da água pelo mercúrio utilizado no garimpo impacta na disponibilidade de alimento nas comunidades.

O presidente Lula se comprometeu a combater as ilegalidades nas terras indígenas. “Sei da dificuldade de tirar o garimpo ilegal, já se tentou outras vezes e eles voltam”, argumentou.

“Mas nós vamos levar muito a sério de acabar com qualquer garimpo ilegal e mesmo que seja uma terra que tenha autorização da agência para fazer pesquisa, eles podem fazer pesquisa sem destruir a água, a floresta e sem colocar em risco a vida das pessoas que dependem da água para sobreviver”, afirmou Lula. “É importante as pessoas saberem que esse país mudou de governo e o governo agora vai agir com a seriedade no tratamento do povo que esse país tinha esquecido”, completou.

Outras medidas anunciadas

Para ajudar a conter a crise, o governo federal anunciou o envio imediato de cestas básicas, insumos e medicamentos e instalou o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE – Yanomami), que estará sob responsabilidade da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI). 

Entre outros, o órgão será o responsável por coordenar as medidas a serem empregadas durante o estado de emergência, incluindo a mobilização de recursos para o restabelecimento dos serviços de saúde e a articulação com os gestores estaduais e municipais do Sistema Único de Saúde.

Na noite de sexta, o presidente instituiu o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das Populações em Território Yanomami, com o objetivo de discutir as medidas a serem adotadas e auxiliar na articulação interpoderes e interfederativa.

“O povo Yanomami não mais será desamparado pelo Estado brasileiro”, escreveu, nas redes sociais, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, ao anunciar a instituição do comitê.

Inquérito sobre genocídio

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse neste sábado que vai determinar a abertura de um inquérito policial para apurar o crime de genocídio e crimes ambientais na terra indígena Yanomami. Dino esteve na comitiva que acompanhou Lula em Boa Vista.

A partir de segunda-feira, a Polícia Federal estará à frente das investigações para apurar as responsabilidades pela situação dos indígenas. Para Dino, “há fortes indícios de crime de genocídio” diante dos “sofrimentos criminosos impostos aos yanomamis”.

Homem é preso por ameaçar Lula

A Polícia Federal (PF) de Roraima prendeu, na noite desta sexta-feira um homem suspeito de incentivar o cometimento de um homicídio contra o presidente.

Em uma publicação nas redes sociais em que Lula anunciava a viagem a Roraima, o suspeito comentou que seria “a hora de colocar a bala na cabeça dele [de Lula]”.

A prisão foi feita em flagrante e o homem encaminhado ao sistema prisional, onde permanecerá à disposição da Justiça.

le (AgBR, ots)

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