Covid-19

Índia vai atrasar entrega de vacinas compradas pelo governo Bolsonaro

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(Joel Rodrigues/Agência Brasília)

O Instituto Serum, responsável pela produção na Índia da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela AstraZeneca e a Universidade de Oxford, comunicou ao Brasil que não conseguirá cumprir os prazos de entrega dos imunizantes comprados pelo governo Jair Bolsonaro.

A informação foi publicada neste domingo (21/03) pelo jornal indiano Indian Times. Segundo o diário, o chefe do instituto, Adar Poonawalla, enviou uma carta à Fiocruz confirmando a suspensão das entregas, sem data exata para restabelecimento.

O Brasil, de acordo com Poonawalla, recebeu até agora 4 milhões dos 20 milhões de vacinas encomendados. A cifra difere da previsão mais recente da Fiocruz. Segundo a fundação, a negociação com a AstraZeneca e o Instituto Serum incluía a aquisição de mais oito milhões de doses ao longo dos próximos dois meses.

O atraso anunciada pelo Instituto Serum afeta também outros países, como Marrocos e Arábia Saudita. Ele foi justificado pelo aumento da demanda interna e dificuldades no trabalho de expansão de capacidade.

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No início do mês, em declarações ao Congresso, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, já havia indicado que poderia haver atrasos em março na carga vinda da Índia.

Pressão interna na Índia

A Índia, o maior fabricante mundial de vacinas, está sendo criticada domesticamente por doar ou vender mais doses do que administra em casa. O país está em meio a mais uma onda de covid-19, e já registrou mais de 11,6 milhões de infectados.

A informação do atraso de entregas ao Brasil é noticiado dias depois de o Reino Unido anunciar que teria que retardar seu programa de vacinação no próximo mês porque o instituto indiano demoraria a entregar doses planejadas. O Instituto Serum forneceu até agora metade das doses dos 10 milhões que o governo britânico encomendou.

Uma fonte citada pela agência de notícias Reuters disse que o Serum trabalha para expandir sua produção mensal de 60 para 100 milhões de doses até abril ou maio.

Originalmente, o instituto deveria vender vacinas apenas para países de média e baixa renda, principalmente na Ásia e África, mas problemas de produção em outras instalações da AstraZeneca forçaram-no a enviar para muitos outros países em nome da AstraZeneca.

A Índia doou até agora 8 milhões de doses e vendeu quase 52 milhões para 75 países, principalmente a vacina da AstraZeneca feita pelo Serum. A Índia já administrou mais de 44 milhões de doses desde que iniciou sua campanha de imunização, em meados de janeiro.

Vacina gerou constrangimento para Bolsonaro

No início do ano, sob pressão após a aquisição da Coronavac pelo governo de São Paulo e sem ter nenhuma dose em mãos para o início da campanha de vacinação nacional, Bolsonaro enviou uma carta  ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, pedindo urgência no envio ao Brasil, para, assim, tentar garantir o protagonismo da imunização.

O pedido de urgência para a importação das doses ocorreu após a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entidade do governo federal, ter informado que ocorreria um atraso na chegada ao país do insumo necessário para a produção local do inoculante da AstraZeneca. 

Pouco depois, o Ministério das Relações Exteriores afirmou em nota que o Brasil adquiriu as doses do Instituto Serum e que a embaixada brasileira teria feito os preparativos junto às autoridades indianas para receber os lotes. Um avião chegou a iniciar viagem para buscar a vacina no país asiático. Tanto Bolsonaro quanto o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prometiam a chegada do imunizante em dois dias.

Num constrangimento para Bolsonaro, o voo, porém, acabou sendo adiado depois que o governo indiano declarou que não poderia ainda dar uma data para a exportação de doses produzidas no país.

“Parece que o Brasil queimou a largada ao anunciar oficialmente o envio de uma aeronave para transportar 2 milhões de doses de vacina”, afirmou uma reportagem do jornal indiano Hindustan Times na época.

A carga com 2 milhões de doses acabou chegando apenas em finais de janeiro. O material já vem pronto para ser aplicado e é apenas rotulado na Fiocruz. O segundo lote, com mais dois milhões de doses, chegou ao Brasil em 23 de fevereiro.

Importação supriria demora na produção interna 

Segundo a Fiocruz, a vacina indiana serviu para reduzir o impacto inicial sobre o cronograma de entregas. A fundação planeja entregar cerca de 20 milhões de vacinas da AstraZeneca-Oxford por mês, a partir de abril. As entregas ocorrerão de forma semanal. Para março, estão previstos 3,8 milhões de doses, com entrega de 1,08 milhão para esta semana

As vacinas se referem à produção feita pela Fiocruz, sem contar com as compradas pelo Instituto Serum, na Índia.

A quantidade das doses indianas enviadas ao Brasil nunca foi confirmada, mas a imprensa brasileira noticiava que a previsão do governo era de que 2 milhões de doses fossem repassados mensalmente, a partir de abril.

Por Deutsche Welle

rpr/ek (Reuters, ots)

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