Brasil

Educação profissional ganha destaque no Brasil, mas ainda enfrenta desafios

A educação profissional tem se tornado cada vez mais uma opção para quem busca uma qualificação rápida e eficiente para o mercado de trabalho. Segundo uma pesquisa realizada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), a modalidade é a mais bem avaliada no país, superando o ensino superior em diversos aspectos.

O estudo, que ouviu 2 mil pessoas em todo o território nacional, revelou que 77% dos entrevistados consideram a educação profissional muito importante ou essencial para o desenvolvimento do país. Além disso, 74% afirmaram que os cursos técnicos e profissionalizantes preparam melhor os alunos para o mercado de trabalho do que os cursos superiores.

Entre as vantagens da educação profissional, os entrevistados citaram a boa aceitação pelas empresas (69%), os bons salários (67%), a acessibilidade financeira (66%) e a duração mais curta dos cursos (65%). A pesquisa também mostrou que 64% dos brasileiros têm interesse em fazer um curso técnico ou profissionalizante, sendo que 41% pretendem fazer isso nos próximos dois anos.

“A pesquisa comprova que o brasileiro está reconhecendo que a formação de nível técnico abre portas para o mercado de trabalho e que temos uma educação profissional de primeiro mundo. O Brasil tem redes, como as dos serviços nacionais de aprendizagem e dos institutos federais, com alcance, infraestrutura e corpo técnico de excelência”, avalia o diretor de Operações do Senai, Gustavo Leal.

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Educação profissional ganha destaque no Brasil, mas ainda enfrenta desafios
(Foto: Senai RS/Divulgação)

Desafios para ampliar a oferta

Apesar da avaliação positiva e do crescente interesse pela educação profissional, o país ainda está longe de cumprir a meta de expansão da oferta prevista no Plano Nacional de Educação (PNE). O documento, sancionado em 2014, estabelece que o Brasil deve alcançar 4,8 milhões de matrículas na educação profissional técnica de nível médio até 2024. No entanto, segundo dados do Censo Escolar 2022, o país registrou apenas 2,15 milhões de matrículas na modalidade, sendo 1,24 milhão na rede pública.

Para tentar reverter esse cenário e ampliar as oportunidades educacionais, principalmente para os mais jovens, o Senado Federal aprovou no dia 11 de julho a proposta (PL 6.494/2019) que conecta a formação profissional técnica de nível médio com a aprendizagem profissional. Para isso, determina a formulação de uma política nacional para o setor. O texto segue para sanção presidencial.

“A educação de formação profissional, ensinos técnico e tecnológico, são modalidades absolutamente necessárias para que o Brasil possa ter na escola o aprendizado que permita aos jovens terem uma experiência profissional”, ressalta o senador Cid Gomes (PDT-CE), relator da matéria.

O projeto prevê um prazo de dois anos para a elaboração da política nacional de educação profissional e tecnológica, seguindo os critérios do PNE. De acordo com o texto, a educação profissional e tecnológica deve ser organizada em eixos que observem a integração curricular entre cursos e programas. O objetivo é viabilizar itinerários formativos contínuos e trajetórias progressivas de formação entre todos os níveis educacionais, aos moldes do Novo Ensino Médio.

A implementação da nova política pública será formulada pela União, com a colaboração de estados e Distrito Federal. Também caberá à União assegurar, junto aos sistemas de ensino, o processo nacional de avaliação das instituições e dos cursos de educação profissional técnica e tecnológica.

O PL 6.494/2019, de autoria do ex-deputado federal João Campos, já havia sido aprovado em junho na Comissão de Assuntos Econômicos e na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. Na Câmara dos Deputados, o projeto foi aprovado em dezembro de 2022.

A importância da integração

O professor e especialista em educação, Marcello Vieira, lembra que a integração do ensino médio ao ensino profissionalizante é desafiadora, mas necessária. Ele destaca que a educação profissional e técnica faz parte da educação básica e deve oportunizar o desenvolvimento de habilidades e competências nos alunos, para que eles possam entrar no mundo do trabalho.

“A gente não pode esquecer que a educação profissional e técnica, do ponto de vista do ensino médio, ainda pertence à educação básica. A escola tem que oportunizar esses conteúdos e desenvolver habilidades e competências nos alunos, para que eles possam entrar no mundo do trabalho. Esse é um desafio de conexão, mas que pode ser extremamente valoroso e assegurar uma oportunidade imediata de entrada desse aluno no mundo do trabalho”, explica.

Vieira também ressalta que a educação profissional e técnica pode contribuir para reduzir a evasão escolar e aumentar o interesse dos estudantes pela aprendizagem. Segundo ele, muitos jovens abandonam os estudos por não verem sentido na escola ou por não encontrarem uma perspectiva de futuro.

“A educação profissional e técnica pode ser um elemento motivador para esses jovens permanecerem na escola e se qualificarem para o mercado de trabalho. Além disso, pode ser uma porta de entrada para o ensino superior, caso eles queiram continuar seus estudos. A educação profissional e técnica não é um fim em si mesma, mas um meio para o desenvolvimento pessoal e profissional dos jovens”, conclui.

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