Caminhoneiros e dono de bar são as vítimas da chacina no Capão
Quatro homens passaram uma vez em frente ao bar no Jardim Germânia antes de ataque que vitimou dono do estabelecimento; outras três pessoas sobreviveram
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Um veículo Chevrolet Meriva, de cor branca, passa com a porta aberta em frente ao bar localizado na esquina da rua Calil Jorge Calixto com a rua Doutor Nério Nunes, no Jardim Germânia, zona sul da cidade de São Paulo. Esse foi o carro usado por atiradores em chacina com três mortos e três feridos no começo da noite de domingo (26/1), segundo relato contado por testemunhas para moradores do entorno.
Minutos depois, o mesmo carro volta ao local. Dessa vez, o ataque acontece. Quatro homens encapuzados, com luvas e coletes à prova de balas de cor preta descem e entram no bar. Dois deles têm pistolas, um carrega uma calibre 12 e outro um revólver, conforme contam os vizinhos do bar sobre o que ouviram de seus amigos presentes na hora do ataque.
Algumas pessoas correm e os disparos são dados apenas dentro do local, depois de passarem por uma pequena sacada na entrada. Dois caminhoneiros, Eduardo Sousa dos Santos, 44 anos, e Alessandro Santos Pedroso, 39, morreram na hora.

João Ferreira de Moraes Neto, 48, dono do estabelecimento, morreu após ser atendido no Hospital Municipal do Campo Limpo. Outras três pessoas baleadas seguem internadas, sem informação sobre seu estado de saúde.
“Os caras vieram para atacar, isso estava claro”, conta um morador sob condição de anonimato. Ele e três amigos estavam em frente ao bar no começo da tarde desta segunda-feira (27/1). O homem conta que frequenta o local “desde sempre” por ser criado no bairro. Nunca viu ou ouviu sobre nada parecido na região.
“Coisas assim não acontecem aqui, é mais lá para baixo. Por ser do lado do Capão Redondo, o pessoal acha que aqui é violento, mas não é. É um lugar calmo”, explica. Segundo ele, um dos caminhoneiros tinha acabado de fazer um carreto e estava no bar jogando baralho para ganhar um dinheiro extra apostando com amigos.

Investigadores do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) estiveram no local duas vezes investigando o bar e seu entorno. Primeiro, logo em seguida às mortes, na noite do domingo. Depois, buscaram imagens de câmeras de segurança nas ruas que dão ao bar para descobrir de onde veio o veículo Meriva.
Em conversa com a reportagem, um dos policiais civis disse estranhar o uso de uma espingarda calibre 12 em chacina. “É incomum”, afirmou. Outro investigador destacou que esse não costuma ser um armamento usando por integrantes do crime organizado. “Preferem submetralhadora, pistola, revólver, até fuzil. Calibre 12? Não”, afirma. Os policiais não detalharam, no entanto, se algum estojo do calibre citado pelos moradores foi encontrado e, portanto, não há confirmação da arma usada no ataque.
De acordo com o boletim de ocorrência registrado no 47º DP (Capão Redondo), uma testemunha afirma que outro veículo, modelo Toytota Corolla branco, também teria sido usado no ataque. “Quatro indivíduos encapuzados, todos armados […] entraram no bar e, sem nada dizerem, começaram a atirar em todos que ali se encontravam”, detalha o documento, corroborando com a versão dada pelos vizinhos.

“Eu estava no bar 40 minutos antes dos tiros. Tomei duas catuabas e fiquei devendo R$ 25 para o Negão [apelido de João Ferreira]”, relembra um frequentador do bar, de aproximadamente 50 anos, também com medo de se identificar por conta de represálias. “Era uma pessoa muito boa. Estou sem palavras até agora”, prossegue.
A Ponte questionou a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo), comandada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), sobre as investigações da chacina e aguarda um posicionamento oficial.
Por Arthur Stabile – Repórter da Ponte
