Ex-aliada, Hasselmann denuncia 'milícia' e 'gabinete do ódio' dos Bolsonaro
Por José Carlos Oliveira, da Agência Câmara
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Ex-líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) denunciou nesta quarta-feira (4) a existência de uma “milícia digital” para espalhar ameaças e ataques à reputação de críticos do governo Bolsonaro. À frente do que chama de “organização criminosa”, estariam o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, além de outros parlamentares estaduais e seus assessores. Em depoimento à CPMI das Fake News, Hasselmann disse que a “milícia” age sobretudo em grupos fechados de redes sociais, principalmente no Instagram e no Signal.
“Eles escolhem uma pessoa e essa pessoa é massacrada. Eles se escondem atrás de um perfil, como ‘Ódio do Bem’, ‘Isentões’ e ‘Left Dex’”, revelou. A deputada disse ainda que o perfil ‘Ódio do Bem’ teria atacado recentemente a Operação Lava Jato para proteger o senador Flávio Bolsonaro. A orientação desses grupos, segundo ela, é atacar aqueles considerados ‘traidores’. Outro perfil usado nessa estratégia, segundo Hasselmann, seria o ‘BolsoFeios’, administrado por Dudu Guimarães, assessor do deputado Eduardo Bolsonaro.
A deputada também apontou o uso de robôs para alavancar artificialmente as hashtags #alcolumbremaquiavélico; #deixadeseguirapepa (contra a própria deputada); e #foragilmarmendes.
Joice Hasselmann informou à CPMI que haveria, inclusive, uma tabela para que, a cada dia, fosse produzido um meme ou uma publicação específica para destruir reputações. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia; ex-colaboradores governistas, como Gustavo Bebianno e o general Santos Cruz; e até o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, já teriam sido alvos desses ataques.
Robôs
Segundo Joice, o Twitter é outro instrumento usado pela “milícia” por meio de contas como “Grupo do Ódio” e “Grupo da Maldade”, que viralizam os ataques virtuais por meio de robôs. A deputada apresentou dados do aplicativo Bottometer para afirmar que, dos 5,4 milhões de seguidores da conta do presidente Jair Bolsonaro no Twitter, mais de 1,4 milhão seriam robôs. E dos 1,7 milhão de seguidores do deputado Eduardo Bolsonaro, 468 mil também seriam robôs.
“São quase 2 milhões de robôs em apenas duas contas de twitter. Eu quero crer que o presidente não sabe disso. Mas, pelo que se vê nas conversas do grupo do ‘Gabinete do Ódio’, o deputado Eduardo Bolsonaro está amplamente envolvido e é um dos líderes desse grupo que nós chamamos de milícia digital”, completou.
Segundo a deputada, cada disparo de tuíte via robô custa em média R$ 20 mil. Ela suspeita que os ataques sejam financiados por quase R$ 500 mil de dinheiro público, já que integrantes do chamado “Gabinete do Ódio” seriam assessores de parlamentares governistas.
Financiamento
A relatora da CPMI, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), pediu foco na investigação do financiamento da chamada “milícia digital”. Ela considerou as acusações muito graves, em especial, a confirmação da existência do chamado ‘Gabinete do Ódio’. “Como foi aqui demonstrado, há três núcleos: o operacional, que conta com assessores de deputados estaduais e federais; o distribuidor, que envolve sites e blogs; e o núcleo econômico, que todos queremos identificar. Nós agora devemos fazer o caminho do dinheiro”.
Citado nas denúncias de Joice, o deputado Eduardo Bolsonaro está em missão oficial em países do Oriente Médio. Vários parlamentares governistas contestaram as denúncias.
Para o deputado Filipe Barros (PSL-PR), Joice Hasselmann fez uma “denúncia falsa”, sem provas, e estaria agindo com “mágoa” por ter sido afastada da liderança do governo no Congresso e não ter recebido o apoio do presidente Bolsonaro para uma possível candidatura à prefeitura de São Paulo.
Vice-líder do PSL, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) minimizou o depoimento. Para Kicis, casos de injúria ou possível calúnia devem ser tratados pela Justiça. “Isso aqui está se transformando em CPMI do não façam meme, não falem de mim, não me chamem de traidora. Mas a deputada Joice não vai conseguir controlar as redes, porque as redes são utilizadas por pessoas, não por robôs”.
Explicações
O deputado Rui Falcão (PT-SP) apresentou requerimento com pedido de explicações formais por parte do Palácio do Planalto. A oposição também cobra informações sobre suposta articulação do vereador Carlos Bolsonaro para criar uma “mídia paralela” e uma “Abin paralela”, agindo independentemente da Agência Brasileira de Informação (Abin).
Joice Hasselmann também denunciou a existência de 26 mil robôs entre os 164 mil seguidores da Aliança pelo Brasil, partido que está em fase de criação pelo grupo mais próximo ao presidente Bolsonaro. Deputados temem que a recente decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de aceitar a assinatura digital para a criação de partidos políticos aumente o risco de fraude por meio de robôs.