PM acerta motoqueiro com barra de concreto, denuncia família
Por Jeniffer Mendonça
PM golpeou jovem no tórax em blitz e atingiu seu coração, segundo família; ‘cenário de terror’, diz testemunha
Um empacotador afirma ter sido golpeado no tórax com uma barra de concreto por um policial enquanto passava por uma blitz no Jardim Jaqueline, na zona oeste de São Paulo. Essa foi mais uma agressão que aconteceu na noite de Natal (25/12/2019), quando câmeras de segurança flagraram um PM acertando outro motociclista, de 23 anos, na cabeça usando o objeto.
A vítima de 18 anos teve alta do Incor (Instituto do Coração), ligado ao Hospital das Clínicas da USP, neste sábado (4/1), após passar por cirurgia, já que o impacto do golpe teria perfurado o coração, segundo a família.
“Eu estava indo buscar minha namorada para passar o Natal e só deu tempo de ver o policial com a barra de concreto. Eu fui atingido logo depois do outro rapaz [flagrado no vídeo]. Todo mundo que passava de moto ali, ele [PM] ia pra cima dessa forma”, lembra.
O jovem afirma que assim que sentiu o impacto, perdeu a consciência. “Eu soube que eu fui socorrido por um amigo meu da época da escola que estava passando ali e me reconheceu, ainda nem tive tempo de agradecê-lo”.
Amigo da vítima, um ajudante geral que também pediu para não ser identificado por medo de represálias, afirma que tinha passado de carro pela blitz e estranhou a movimentação de policiais no local quando estava voltando pela rua a pé, após guardar o veículo. “Eu me deparei com várias motos da Rocam e ele [empacotador] jogado no chão todo ensaguentado, ralado”, lembra. “Tinha uma pedra grande do lado dele e o policial falou que na pancada, ele arrancou um pedaço do concreto do chão. Disseram que ele tava usando droga, baforando lança-perfume pilotando a moto. Só que eu conheço ele há muito tempo, já sei que ele não faz uso”.
O ajudante ainda denuncia que os policiais jogaram água na vítima desacordada e não prestaram socorro. “Eles pediram a documentação dele, tiraram a foto do RG dele, levaram a moto dele porque ele tava sem capacete. Jogaram água na cabeça dele, até a garrafa também e foram embora, não ofereceram socorro nenhum, ficou por nossa conta”.
O homem conta que teve ajuda de pessoas que passavam de carro pelo local para levar a vítima até o Pronto Socorro Municipal Dr. Caetano Virgílio Neto, também conhecido como Bandeirantes, na zona oeste.
De acordo com a família, por conta da gravidade dos ferimentos, a vítima foi transferida do pronto-socorro para o Hospital Universitário da USP e depois ao Incor. “A gente nem teve Natal, só ficou no hospital. Falaram no pronto-socorro que não ia ter jeito, mas agora ele tá bem”, desabafou o pai do vítima.
O ajudante geral afirma que viu outras pessoas serem agredidas pelos PMs. “Teve um cara que avançou um pouco o carro e os policiais já foram pra cima com bala de borracha, deram chute nele. Umas meninas sendo agredidas num paredão”, denuncia.
“Nunca tinha visto aqui desse jeito, tava um cenário de terror mesmo. Agressão aqui sempre acontece, mas não nesse ponto de usar barra de concreto”, prossegue. “Tá todo mundo assustado porque a gente é pobre, mora na comunidade, é discriminado demais”.
Procurada pela reportagem, a Inpress, assessoria de imprensa terceirizada da SSP (Secretaria de Segurança Pública), informou por meio de nota que “os policiais que aparecem nas imagens já foram identificados” e que “diante da gravidade do fato, a Corregedoria instaurou inquérito policial militar para apurar todas as circunstâncias, incluindo essa nova denúncia feita pela reportagem”. A pasta aponta que as “imagens denotam erro grave nos protocolos vigentes na Polícia Militar e todos os envolvidos foram afastados das atividades operacionais, enquanto durarem as investigações”.
A assessoria da secretaria municipal da Saúde, responsável pelo pronto-socorro, confirmou que a vítima deu entrada no PS Bandeirantes e foi transferida para o Hospital Universitário. A pasta informou que não poderia fornecer mais detalhes sem consentimento da família.
Tentamos contato com as assessorias de imprensa da USP, do Hospital das Clínicas e do Incor, mas até a publicação não haviam retornado.
*Esta reportagem foi publicada originalmente pela Ponte.