Política

Ministro da saúde bate boca com Doria sobre vacina

Eduardo Pazuello e João Doria (Arquivo)

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou nesta terça-feira (08/12) em reunião com governadores que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve levar cerca de 60 dias para aprovar a aplicação em massa de qualquer vacina contra a covid-19.

Em clima tenso, o encontro, realizado em parte por videoconferência, teve ainda bate boca entre Pazuello e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sobre o desinteresse do governo federal na vacina desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac, a Coronavac.

Enquanto São Paulo firmou um acordo com o laboratório chinês para compra e produção do imunizante no Brasil, em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, o governo federal deu preferência para a vacina da AstraZeneca e da Universidade de Oxford. O tema está no centro de uma disputa política entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro, seu desafeto.

Após a reunião, o Ministério da Saúde disse que firmou um acordo com os governadores para garantir que o governo federal comprará qualquer vacina que for aprovada pela Anvisa e que obtiver seu registro no país, incluindo a vacina chinesa.

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Pazuello, contudo, afirmou que a agência “vai precisar de um tempo cumprindo essa missão” e disse apostar no início da vacinação com a AstraZeneca/Oxford. “O registro gira em torno de 60 dias. Se tudo estiver redondo, teremos o registro efetivo da AstraZeneca no final de fevereiro, dando início à vacinação”, antecipou o ministro.

A estimativa sobre o tempo de registro na Anvisa vai de encontro ao plano de imunização anunciado por Doria na segunda-feira, que prevê o início da campanha de vacinação no estado de São Paulo já em 25 de janeiro de 2021, com a Coronavac.

Bate boca com Doria

Em relação às escolhas do governo federal em relação a vacinas, o governador paulista questionou Pazuello, durante a reunião desta terça, se o governo Bolsonaro menospreza a vacina chinesa por uma “questão ideológica, política ou por falta de interesse”.

“O que difere, ministro, a condição e a sua gestão como ministro da Saúde de privilegiar duas vacinas em detrimento de outra vacina? É uma razão de ordem ideológica, é uma razão de ordem política ou é uma razão de falta de interesse em disponibilizar mais vacinas”, disse Doria.

Ele se referia ao imunizante de Oxford/AstraZeneca e ao consórcio Covax Facility, que reúne empresas e governos de diversos países e ao qual o governo federal destinou R$ 830 milhões. Ao listar esses acordos, o governador frisou que ambas as vacinas estão na mesma situação da Coronavac, ainda sem aprovação da Anvisa.

Doria também lembrou o episódio em que o ministro da Saúde foi desautorizado por Bolsonaro após anunciar a intenção do governo de comprar 46 milhões de doses da vacina chinesa, em outubro. Algumas horas depois da fala de Pazuello, o presidente vetou a compra do imunizante.

“O seu ministério pagou à AstraZeneca R$ 1,2 bilhão sem a vacina, e a CoronaVac, que é a vacina do Butantan, que já temos uma parcela considerável e que o senhor na última reunião com 24 governadores anunciou que compraria 46 milhões [de doses]… Infelizmente o presidente desautorizou o senhor, foi deselegante com o senhor em menos de 24 horas e impediu que sua palavra fosse mantida perante os governadores”, declarou.

Questionado pelo líder paulista se o Ministério da Saúde vai comprar a Coronavac se ela for aprovada pela Anvisa, Pazuello respondeu que “se houver demanda e houver preço, nós vamos comprar”. “Todas as vacinas, todas as produções serão alvo de nossa compra”, disse, lembrando que o Butantan é o “maior fabricante de vacina do nosso país e é respeitado por isso”.

Pressão de governadores

O encontro desta terça, com alguns governadores presentes no Palácio do Planalto e outros participando por videoconferência, teve como objetivo definir uma estratégia nacional de vacinação, um dia depois de São Paulo ter anunciado seu próprio plano estadual.

Segundo líderes presentes, o governo federal estabeleceu a meta de garantir 420 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, suficientes para imunizar toda a população, levando em conta que é necessária a aplicação de duas doses por pessoa.

Ronaldo Caiado, governador de Goiás (Cristiano Borges/Reprodução)

Após sair da reunião, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), afirmou que gostaria de “tranquilizar os goianos que não vai ter essa de nenhum estado ‘sair na frente'” em relação à vacinação contra o coronavírus. “Todos seguirão o Plano Nacional de Imunização. E não importa a origem da vacina, se autorizada pela Anvisa será adquirida”, escreveu no Twitter.

Por sua vez, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), fez um apelo a Pazuello para que o Ministério da Saúde “tente um diálogo” com o Instituto Butantan em relação à Coronavac.

Camilo Santana, governador do Ceará (Rede Social/Reprodução)

“O Butantan é uma instituição brasileira, uma das maiores fornecedoras de vacinas deste país. Se vai ser a vacina do Butantan que ficará pronta primeiro no país, que a gente possa utilizar a vacina do Butantan”, afirmou Santana durante a reunião, segundo vídeo publicado nas redes sociais.

Pazuello reiterou, porém, que a aposta do governo é iniciar a vacinação nacional com o imunizante desenvolvido pela AstraZeneca. A previsão, segundo ele, é submeter o pedido de registro da vacina à Anvisa em dezembro, para uma aprovação em fevereiro.

O governador do Ceará disse que o governo anunciou a previsão de distribuir 100 milhões de doses da AstraZeneca até junho, e mais 160 milhões de doses no segundo semestre. Segundo Santana, o ministério também teria prometido negociar 112 milhões de doses com outros laboratórios.

Citados pelo jornal O Globo, governadores presentes informaram que o Ministério da Saúde planeja apresentar um plano nacional de vacinação mais detalhado nesta quarta-feira, incluindo datas para vacinação e dados sobre compra dos insumos necessários, como agulhas e seringas.

EK/ots

Por Deutsche Welle

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